[Entrevista] Conheça as três escritoras vencedoras do Prêmio São Paulo de Literatura
Ana Paula Maia conquistou a premiação de melhor romance. Já as autoras Aline Bei e Cristina Judar ganharam nas categorias de estreantes
Anunciado no início de novembro, o Prêmio São Paulo de Literatura 2018 foi conquistado por três mulheres. O principal destaque foi a escritora carioca Ana Paula Maia, com o livro Assim na Terra como embaixo da Terra. Lançada em 2017, a obra narra a história de uma colônia penal situada no Brasil, para onde são enviados os “desgarrados da sociedade”. Eles precisam enfrentar o duro cotidiano no campo de extermínio.
Para o júri, o livro de Ana Paula Maia “propõe uma poderosa metáfora para muitas situações vividas no momento atual e, ao mesmo tempo faz uma provocação para que se olhe de forma questionadora para o nosso passado enterrado em tantas ‘Colônias’ esquecidas e invisíveis aos olhos da maioria de nós”.
Para escrever a obra, Ana Paula inspirou-se no conto Na colônia penal, de Franz Kafka. Em entrevista ao Estante Blog, a autora conta que queria falar sobre o sistema carcerário dentro de seu universo da literatura e lembra que decidiu escrever o Assim na Terra como embaixo da Terra após publicar o livro De gados e homens.
“Eu queria me aprofundar mais na história do protagonista Bronco Gil e assim nasceu a obra. Meu universo ficcional está todos entrelaçado. Já o conto de Kafka eu li antes de criar minha própria colônia penal. Ao ler o texto, ficou evidente que a minha história era diferente, porém o horror estava em dimensão similar”, afirma Ana Paula, que também inspira-se em autores como Fiódor Dostoiévski, Nelson Rodrigues, Julio Verne e Campos de Carvalho.
Estreantes
Nas categorias de estreantes as vencedoras foram as paulistas Aline Bei (menos de 40 anos), com O peso do pássaro morto, e Cristina Judar (mais de 40 anos), com Oito do sete. De forma poética, Aline narra em seu romance de estreia a vida de uma mulher, dos 8 aos 52 anos, desde as sutilezas cotidianas até as tragédias das gerações.
“Minha inspiração foi um canário que morreu na minha mão quando eu era menina. Uma memória que resgatei para contar essa história de perdas e anos passando na vida de uma mulher”, explica a escritora, que produziu O peso do pássaro morto durante uma oficina ministrada pelo escritor Marcelino Freire.
Já o Oito do sete, que foi finalista do Prêmio Jabuti 2018, retrata o cotidiano das amantes Magda e Glória, do anjo Serafim e da cidade Roma, por meio de relatos fragmentados. Segundo a jornalista Cristina Judar, a obra aborda a descoberta do nosso lugar no mundo. O livro ainda não está disponível na Estante Virtual, mas você pode encontrar outros títulos da autora, como Roteiros para uma vida curta.
“A descoberta de um sentido por meio de sonhos, viagens, experiências. Eu sabia o que eu queria de início, a estrutura básica do livro, quais eram os seus pilares, embora eu não seja uma escritora “técnica”, daquelas que bolam mil esquemas. Após definir quem era quem e o quê era o quê no livro, me dediquei a cada uma das quatro partes aos poucos, numa escrita que mesclou intuição e organização”, destaca a autora, que foi uma das convidadas da Casa Philos, na Flip 2018.
Mulheres na literatura
As mulheres têm conquistado cada vez mais espaço no meio literário. Com três vencedoras, o Prêmio São Paulo de Literatura contribuiu também para aumentar a visibilidade dos trabalhos das autoras brasileiras. Cristina reforça que a representatividade das mulheres na literatura precisa estar relacionada à qualidade do que foi escrito. “É preciso criar oportunidades para que elas se desenvolvam e fortaleçam a sua escrita de acordo com a própria voz, visão e identidade”, enfatiza.
Assim como Cristina, Ana Paula argumenta que hoje há mais mulheres interessadas em construir uma carreira, seja nas artes ou em outras profissões. “Não me surpreende as mulheres vencerem os prêmios literários, porque as mulheres são ótimas leitoras e escritoras. O caminho vai sendo aberto. O mercado está mudando, como todo o resto. Estamos num período de transição, de novidades”, diz.
Já leu os livros das escritoras vencedoras? Você também pode gostar destes:
Roteiros para uma vida curta, de Cristina Judar
Em Roteiros para uma vida curta, Cristina Judar leva o leitor a um passeio por aqueles nichos que nem sempre gostamos de visitar. São pedaços de vida bem estruturados, cirurgicamente fatiados, que vão nos mordendo como descargas elétricas. As cenas jorram de frestas finas, muito comprimidas, como se estivessem contidas há muito dentro de alguma coisa e, de uma hora pra outra, se deixassem partir por meio de rachaduras forçadas de dentro pra fora.
Carvão animal, de Ana Paula Maia
Insólita e provocante, a literatura de Ana Paula Maia pulsa com a intensidade do possível, do real. Seus heróis são trabalhadores sempre à margem da sociedade, presos na ambiguidade das próprias funções, condicionados pelas próprias escolhas. Marginalizados por elas. Ernesto Wesley, Ronivon, Edgar Wilson. Eles estão por toda parte. O que os torna únicos é a abordagem da autora. A capacidade de filtrar cada realidade e exibir, nua e crua, a motivação de personagens amorais, mas quase líricos.
De gados e homens, de Ana Paula Maia
Edgar Wilson é o protagonista dessa narrativa que se passa dois anos depois da história de Carvão animal. O ex-carvoeiro trabalha em um matadouro de gado, e, embora prefira a criação de suínos, é parte do processo de produção de hambúrgueres que nunca experimentou. Exercendo com perícia a função de atordoador, o responsável pelo abate se vê, junto de seu chefe e de outros funcionários, surpreso diante da morte inesperada de animais e dos questionamentos despertados por tais eventos.
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