FLEV: Um café com Dona Jacira
Detentora de tecnologias e saberes ancestrais, Dona Jacira falou sobre vivências e o livro “Café” no Festival Literário da Estante Virtual
Na quarta-feira (27), o Festival Literário da Estante Virtual (FLEV) recebeu a escritora, griot e mestre em artes e ofício Dona Jacira. Mãe de quatro filhos, entre eles os artistas Emicida e Evandro Fióti, e avó de seis netos, Jacira lançou em 2018 a autobiografia “Café” pela editora LiteraRUA e em parceria com o hub Laboratório Fantasma.
Durante o bate-papo, Dona Jacira compartilhou passagens de sua trajetória, muitas delas presentes no livro, e falou sobre a sua relação com as histórias. A artista afirma que as narrativas que ela escreve partem de suas experiências e saberes adquiridos na vida. De acordo com ela, na sua escrita “tudo depende da memória”.
Em “Café”, a escritora registra as vivências de sua infância, fase da vida que ela aponta como uma das mais importantes e de maior aprendizado. Com uma escrita fluida e contundente, Dona Jacira percorre por suas memórias ressaltando a importância do registro das sensações desencadeadas pelas experiências, como as presentes nas cores ou nos cheiros de café e de alho fritando.o
Nascida no dia 25 de dezembro de 1964, no bairro Jardim Ataliba Leonel, localizado na Zona Norte de São Paulo, Dona Jacira é filha de Maria Aparecida, de quem ela herdou a garra e o gênio forte. O pai, Estácio, era um missionário religioso e morreu alguns meses antes da filha caçula do casal nascer.
Dona Jacira começou a trabalhar aos 11 anos de idade e atuou em diferentes funções. Mas a escrita demorou a entrar em sua vida. Como ela aponta, em sua trajetória como mulher negra e moradora de periferia, certos espaços lhe foram negados e, nesse sentido, foram os seus filhos que a salvaram. Mas, de acordo com Jacira, ainda é preciso lutar.
“As coisas não mudaram, apesar de tanta luta. A gente precisa de mais luta, ainda mais quando se fala da situação de uma mulher negra periférica. Ainda estou lutando pra levar a minha história pra onde precisa chegar”, afirma.
Além do livro “Café”, Dona Jacira cuida do seu jardim, confecciona artesanalmente bonecas de pano em parceria com moradores e moradoras do bairro Cachoeira, localizado na Zona Norte de São Paulo, e é apresentadora dos podcasts “Estórias de Família” e “A Voz da Coragem”, produzidos em parceria com a Laboratório Fantasma.
Ao fim da conversa, Dona Jacira sugeriu cinco livros que ela acha que todo mundo deveria ler. Confira as indicações!
Café, Dona Jacira
Na autobiografia “Café”, Dona Jacira compartilha as suas memórias e vivências da infância de uma criança que, precocemente, virou mãe, mulher e cidadã. Desde muito cedo, Jacira enfrentou a dureza da vida, a navalha dos preconceitos e descobriu que a violência podia estar sentada no sofá da sala, na mesa de jantar ou se esconder nas paredes de sua infância.
Mulheres Que Correm Com os Lobos, Clarissa Pinkola Estés
Entre 19 mitos, lendas e contos de fada, como a história do patinho feio, Mulheres que Correm Com os Lobos evidencia de que modo a natureza instintiva da mulher foi sendo domesticada ao longo da história, em um processo de punição àquelas que se rebelassem contra o sistema. Um clássico dos estudos sobre o sagrado feminino e o feminismo, o livro de Clarissa Pinkola Estés, mostra como, aos poucos, as mulheres se livraram das amarras culturais revelando a corajosa loba que vive em seu interior.
Olhos D’Água, Conceição Evaristo
Lançado em 2014, “Olhos D’Água” reúne 15 contos que relatam a história de mulheres e homens negros que sofreram e sofrem os diferentes tipos de violência e depreciação na sociedade. Ao longo das, Conceição Evaristo fala sobre o cotidiano de pessoas que sofrem com a miséria e a exclusão social.
O Meu Pé de Laranja Lima, José Mauro de Vasconcelos
Lançado em 1968, “O Meu Pé de Laranja Lima” acompanha a trajetória de Zezé, um menino de 6 anos que mora num bairro modesto na zona norte do Rio de Janeiro. Mesmo em meio a dificuldades com a família e castigos corporais aplicados pelo pai e a irmã mais velha, o menino se apega ao mundo e viaja com sua imaginação sem se conformar com as limitações que lhe são impostas.
Tratado Geral Sobre a Fofoca, José Angelo Gaiarsa
Em “Tratado Geral Sobre a Fofoca”, José Angelo Gaiarsa faz uma análise sociológica, filosófica, histórica e psicológica da fofoca. De acordo com o autor, ao fazermos fofoca de um indivíduo, colocamos nele todos os preconceitos que estão dentro de nós e, automaticamente, nos livramos de qualquer defeito, tornando-nos modelos de perfeição.
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