‘Existe algo muito perverso em relacionar o negro sempre à escravidão’, diz Marcelo D’Salete
Vencedor do Prêmio Eisner 2018, quadrinista participou de mesa da programação oficial da Flip 2019 neste terceiro dia de evento
O terceiro dia da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2019) foi marcado por discussões de gênero e raça. Um dos destaques desta sexta-feira (12) foi a mesa do quadrinista Marcelo D’Salete, vencedor do Prêmio Eisner, e da educadora Marcela Cananéa. O artista defendeu a mudança na forma de educação nas escolas, sobretudo em relação ao histórico dos negros no Brasil.
“Existe algo muito perverso que é relacionar o negro sempre à escravidão”, disse o quadrinista. Para ele, os colégios devem mostrar a resistência desses grupos e ajudar a preservar a cultura e o conhecimento das comunidades. D’Salete destacou ainda que a resistência colonial nos ajuda a pensar mais sobre o Brasil e analisar nossas relações com as pessoas e até mesmo com o trabalho.
Marcela acrescentou que esses grupos já estão os próprios livros didáticos, como forma de preservação cultural. Durante a mesa, ela lembrou também que o Quilombo do Campinho, em Paraty, comemora 20 anos em 2019. Para celebrar a data, foi organizada a Flip Preta, com uma programação especial em paralelo à Flip, com oficinas, shows e palestras.
Estante Virtual na Flip 2019
Neste terceiro dia de Flip, a equipe da Estante Virtual voltou a circular de bicicleta nas ruas de Paraty com o Correio Literário. Resgatamos o hábito de escrever cartas a pessoas queridas, com cartões-postais de autores homenageados nesta e em outras edições do evento: Euclides da Cunha, Clarice Lispector, Hilda Hilst e Machado de Assis.
Conheça os livros de Marcelo D’Salete:
Cumbe
Um livro que já nasce com um clássico dos quadrinhos brasileiros e que tem como protagonistas os negros escravos em sua luta de resistência contra a opressão escravagista. Cumbe, a palavra banto que dá nome à obra, é rica em sentidos: é o Sol, o dia, a luz, o fogo e a maneira de compreender a vida e o mundo. Também é um sinônimo de quilombo.
Angola Janga
Angola Janga, “pequena Angola” ou, como dizem os livros de história, Palmares. Por mais de cem anos, foi como um reino africano dentro da América do Sul. E, apesar do nome, não tão pequeno: Macaco, a capital de Angola Janga, tinha uma população equivalente a das maiores cidades brasileiras da época. Formada no fim do século XVI, em Pernambuco, a partir dos mocambos criados por fugitivos da escravidão, Angola Janga cresceu, organizou-se e resistiu aos ataques dos militares holandeses e das forças coloniais portuguesas. Tornou-se o grande alvo do ódio dos colonizadores e um símbolo de liberdade para os escravizados. Seu maior líder, Zumbi, virou lenda e inspirou a criação do Dia da Consciência Negra.
Encruzilhada
Há uma tensão não declarada nos quadrinhos de Marcelo D’Salete. Este livro reúne cinco histórias que se passam entre becos, vielas e condomínios de periferia da grande metrópole brasileira, e que são protagonizadas por trabalhadores e desocupados em suas atribulações ordinárias e banais pela sobrevivência. A tensão se sobressai justamente da aparente normalidade que perpassam histórias como a da moça observada pelo seu vizinho do prédio à frente, da pequena vendedora de DVDs piratas, da jovem que consegue comprar seu telefone celular.
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