Estante Entrevista: Os livros indicados por Aline Bei, Eliana Alves Cruz e Tatiana Salem Levy
Escritoras participaram de live, no nosso Instagram, sobre “O olhar das mulheres através das páginas”. Veja as sugestões!
Em mais uma live da série “Estante Entrevista“, as escritoras Aline Bei, Eliana Alves Cruz e Tatiana Salem Levy conversaram sobre “O olhar das mulheres através das páginas”, no nosso Instagram, na última sexta-feira (21). Durante o bate-papo, as autoras falaram sobre a importância da representatividade das mulheres, tanto nas histórias dos livros, enquanto personagens, quanto no mercado literário.
As três escritoras lançaram livros recentemente: em 2020, Eliana lançou Nada digo de ti, que em ti não veja, e neste ano foi a vez de Tatiana, com Vista Chinesa, e Aline, com Pequena coreografia do adeus. Na live, além de contarem um pouco mais sobre o processo criativo e da rotina de escrita, elas reforçaram a importância de diversificar a estante de livros, com obras de todos os gêneros literários, inclusive escritas por mulheres, negros e LGBTQIA+.
As autoras incentivaram também aquelas pessoas que gostariam de começar a escrever. “Não tenha vergonha de você mesmo. Não podemos ter vergonha do que escrevemos. É importante compartilhar com outras pessoas. É experimentar, ler e ter a sua voz”, sugere Eliana.
Na live, elas também deram indicações incríveis de leitura. Confira algumas abaixo e conheça também os lançamentos de Aline Bei, Eliana Alves Cruz e Tatiana Salem Levy!
Cartas a uma negra, de Françoise Ega
A antilhana Françoise Ega trabalhava em casas de família em Marselha, na França. Um de seus pequenos prazeres era ler a revista Paris Match, na qual deparou com um texto sobre Carolina Maria de Jesus e seu Quarto de despejo. Identificou-se prontamente. E passou a escrever “cartas” — jamais entregues — à autora brasileira. Nelas, relatava seu cotidiano de trabalho e exploração na França, as dificuldades, a injustiça nas relações sociais, a posição subalterna (e muitas vezes humilhante) a que eram relegadas tantas mulheres como ela, de pele negra e originárias de uma colônia francesa no Caribe. Aos poucos, foi se conscientizando e passou a lutar por seus direitos. Quando morreu, em 1976, era um nome importante na sociedade civil francesa.
Garota, mulher, outras, de Bernardine Evaristo
As 12 personagens centrais deste romance a várias vozes levam vidas muito diferentes: desde Amma, uma dramaturga cujo trabalho artístico frequentemente explora a sua identidade lésbica negra, à sua amiga de infância, Shirley, professora, exausta de décadas de trabalho nas escolas subfinanciadas de Londres; a Carole, uma das ex-alunas de Shirley, agora uma bem-sucedida gestora de fundos de investimento, ou a mãe desta, Bummi, uma empregada doméstica que se preocupa com o renegar das raízes africanas por parte da filha. As suas histórias, a das suas famílias, amigos e amantes, compõem um retrato multifacetado e realista dos nossos dias, de uma sociedade multicultural que se confronta com a herança do seu passado e luta contra as contradições do presente.
Quarto de despejo – Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo é um clássico que também não poderia faltar na nossa seleção. Este é o diário de Carolina Maria de Jesus. Moradora da comunidade do Canindé, em São Paulo, e mãe de três filhos, Carolina registra a sua rotina como catadora de papel e revela aos leitores um sensível e contundente relato da dura realidade vivida na periferia da capital paulista.
Canções de atormentar, de Angélica Freitas
Canções de atormentar traz o olhar afiado de uma poeta que, com inteligência e ironia, observa a si e ao mundo. Os poemas rememoram a infância no Sul, com o pé de araçá plantado pela avó, relatam o esforço inútil de tentar compreender o Brasil de hoje e discutem a injustiça, o machismo e a nostalgia de uma nação que não passou de projeto. Este livro reúne poemas ora ferozes, ora desiludidos, sem nunca perder de vista a urgência, a vivacidade, o humor e o tom incisivo que consagraram Angélica como um dos nomes mais originais da literatura contemporânea.
Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo
A história de Ponciá Vicêncio descreve os caminhos, as andanças, as marcas, os sonhos e os desencantos da protagonista. A autora traça a trajetória da personagem da infância à idade adulta, analisando seus afetos e desafetos e seu envolvimento com a família e os amigos. Discute a questão da identidade de Ponciá, centrada na herança identitária do avô e estabelece um diálogo entre o passado e o presente, entre a lembrança e a vivência, entre o real e o imaginado.
O olho mais azul, de Toni Morrison
Uma tentativa de dramatizar a opressão que o preconceito racial pode causar na mais vulnerável das criaturas: uma menina negra. Considerado um dos livros mais impactantes de Toni Morrison, o primeiro romance da autora conta a história de Pecola Breedlove, uma menina negra que sonha com uma beleza diferente da sua. Negligenciada pelos adultos e maltratada por outras crianças por conta da pele muito escura e do cabelo muito crespo, ela deseja mais do que tudo ter olhos azuis como os das mulheres brancas — e a paz que isso lhe traria. Mas, quando a vida de Pecola começa a desmoronar, ela precisa aprender a encarar seu corpo de outra forma.
Pequena coreografia do adeus, de Aline Bei
Julia é filha de pais separados: sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto seu pai não suporta a ideia de ter sido casado. Sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a jovem escritora tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares. Entre lembranças da infância e da adolescência, e sonhos para o futuro, Julia encontra personagens essenciais para enfrentar a solidão ao mesmo tempo que ensaia sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento de seus pais que lhe traz marcas indeléveis.
Nada digo de ti, que em ti não veja, de Eliana Alves Cruz
Uma cidade com milícia, racismo, fake news, delação premiada, conservadorismo, fanatismo religioso e ruas sujas. Parece 2020, mas esse é o Rio de Janeiro de 1732, ano no qual está ambientado este romance histórico. A narrativa é eletrizante. Entre as temáticas, salta aos olhos a transexualidade, raras vezes presente em uma trama de época, e as fake news tão em voga, através de cartas anônimas que ameaçam revelar alguns dos segredos mais bem guardados dos integrantes das duas famílias ricas que se cruzam nas 200 páginas do título.
Vista Chinesa, de Tatiana Salem Levy
Estamos em 2014. Euforia no Brasil e especialmente no Rio de Janeiro. Copa do Mundo prestes a acontecer, Olimpíadas de 2016 à vista. Autoestima da cidade nas alturas. Sensação de que o país havia encontrado um novo caminho. Júlia é sócia de um escritório de arquitetura que está planejando alguns projetos na futura Vila Olímpica. No dia de uma dessas reuniões com a prefeitura, Júlia sai para correr no Alto da Boa Vista, um enclave de Mata Atlântica no meio da grande cidade. A certa altura, alguém encosta um revólver na sua cabeça e a leva para dentro da mata, onde é estuprada. Deixada largada no meio da floresta, ela se arrasta para casa, onde uma amiga lhe presta os primeiros socorros. O rosário de dor, sensação de imundície e “culpa” é descrito com crueza e qualidade literária poucas vezes vistas em nossa ficção.
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