Elza Soares: 91 anos de canção e resistência
Elza Soares faleceu nesta quinta-feira (20), aos 91 anos, no Rio de Janeiro. Cantora e compositora carioca era considerada a voz do milênio
A cantora e compositora carioca Elza Soares morreu nesta quinta-feira (20), aos 91 anos. De acordo com o comunicado enviado pela assessoria da artista, ela estava em sua casa, no Rio de Janeiro, e faleceu por causas naturais. Considerada pela BBC de Londres como “A voz do milênio” e uma das 100 maiores vozes da música brasileira, pela revista Rolling Stone, Elza construiu uma trajetória inesquecível na história da música brasileira, fazendo frente às dificuldades que lhe foram impostas durante a vida e abrindo caminhos para as vozes que vieram depois dela.
Nascida na Favela da Moça Bonita, atualmente Vila Vintém, na Zona Oeste do Rio, Elza Soares era filha de uma lavadeira e de um operário. O gosto pela música surgiu cedo na vida da cantora, que, ainda na infância, ensaiava as primeiras notas de sua marcante voz rouca e ritmada. Mas a sua carreira na música ainda precisaria enfrentar alguns obstáculos antes de tornar-se uma realidade.
Quando completou 12 anos, Elza foi obrigada a abandonar os estudos e casar-se com Alaurde Soares, um amigo de seu pai que, na época, tinha 22 anos. Nesta relação, a cantora foi vítima de violência sexual e física e teve o seu primeiro filho aos 13 anos. Aos 21 anos, Elza já havia velado dois de seus filhos, mortos pela fome, e o seu primeiro marido. Viúva e, na época, sem trabalho, ela precisou cuidar sozinha das suas outras duas crianças. Em meio àquela trágica situação, porém, surgiu a possibilidade de que a jovem pudesse, enfim, aventurar-se no meio artístico.
Em 1953, Elza Soares foi à Rádio Tupi escondida da família e fez um teste no programa “Calouros em Desfile”. Naquela época, o seu grande objetivo era conseguir dinheiro para cuidar do filho doente. Em sua primeira apresentação ao público, a jovem Elza Soares deixou Ary Barroso tão impressionado com o seu talento que prenunciou o que viria a acontecer na vida de Elza alguns anos depois: para o apresentador, naquele dia nascia uma estrela.
Dito e feito: em 1959, Elza gravou o seu primeiro trabalho, dentre os 34 que marcariam a sua carreira, e ganhou o Brasil com a gravação do samba “Se Acaso Você Chegasse”, composto por Lupicínio Rodrigues. Nesta época, a cantora também conheceu o jogador de futebol Garrincha (1933-1983), com quem foi casada por 16 anos, teve um filho, o Garrinchinha, e viveu exilada na Itália durante o regime militar.
Em seus 91 anos de vida, Elza Soares representou a força e a resistência das populações oprimidas. Mulher, negra e de origem pobre, a artista foi do jazz ao funk e viveu na pele a luta daqueles que clamam diariamente por justiça social no país. Incansável e inventiva até os últimos momentos de sua carreira, a artista lançou três trabalhos recentes, que, em pouco tempo, se tornaram obras-primas na música brasileira: “A Mulher do Fim do Mundo” (2015), “Deus É Mulher” (2018) e “Planeta Fome” (2019).
Nos versos da canção “Mulher do Fim do Mundo”, a artista pedia para a que deixassem cantar até o fim. E foi isso o que aconteceu: dois dias antes de morrer, Elza Soares deixou um DVD gravado e um novo álbum em produção. Elza Soares permanecerá viva nos corações e ouvidos daqueles que puderam conhecer a trajetória de uma das artistas mais importantes do mundo.
Canto de rainhas, Leonardo Bruno
Canto de rainhas: o poder das mulheres que escreveram a história do samba reúne histórias de grandes mulheres que se dedicaram a esse gênero musical, romperam as barreiras do machismo e do racismo tão entranhadas entre nós até hoje e conquistaram definitivamente o público. Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Dona Ivone Lara e Elza Soares são as cinco protagonistas escolhidas pelo autor para representar um alfabeto inteiro de sambistas, como Tia Ciata, Clementina de Jesus, Leci Brandão, Elizeth Cardoso, Teresa Cristina, Mart’nália, Mariene de Castro e muitas outras. Ao acompanhar as trajetórias dessas artistas extraordinárias, o autor constrói um panorama da música brasileira nas últimas décadas e das conquistas das mulheres na área.
Elza, Zeca Camargo
Elza narra a história de Elza Soares, da infância pobre ao sucesso, consagrada em discos que marcaram a música brasileira e, mais recentemente, nos ovacionados e premiados A mulher do fim do mundo e Deus é mulher. Com coordenação de conteúdo de Juliano Almeida e Pedro Loureiro, o livro foi construído a partir de muita pesquisa do autor e ao longo de dezenas e dezenas de encontros entre Elza e Zeca no apartamento da autora, no Rio de Janeiro.
Elza Soares – Cantando para Não Enlouquecer, José Louzeiro
Em Elza Soares – Cantando para não enlouquecer, o autor José Louzeiro apresenta a trajetória da rainha do drible vocal que teve uma vida marcada por seu estilo exagerado de ser.
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