João do Rio: Um flâneur pelas ruas cariocas
Há 100 anos, morria um dos principais jornalistas e cronistas do Brasil. Veja as suas obras e boa leitura!
Nascido em 5 de agosto de 1881, o jornalista João do Rio ficou conhecido por seu olhar atento e curioso em relação ao centro urbano. Ele foi o primeiro repórter a usar a rua como fonte de inspiração para escrever as reportagens. Pelo Rio de Janeiro, ele era um “flâneur”, um observador do comportamento das pessoas e da sociedade da época. Com realismo e muita sensibilidade, o jornalista retratava todos os tipos de espaços, desde igrejas e terreiros de umbanda, até cabarés, palácios e presídios.
Naquele período do século 20, a cidade vivia a “Belle Époque carioca”. Para tentar tornar-se um local elegante como Paris, o Rio passou por uma intensa reforma urbana, com a derrubada de cortiços e a expulsão de pessoas de classe baixa das casas. Inclusive, o termo “flâneur” começou a ser usado justamente por causa desse período histórico.
No seu principal livro, A alma encantadora das ruas, há crônicas publicadas na imprensa, entre 1904 e 1907, que revelam as mazelas da cidade. João também era conhecido por escrever crônicas que retratavam as epidemias que assolavam o Rio de Janeiro, como febre amarela e gripe espanhola.
As ruas são entes vivos, as ruas pensam, têm ideias, filosofia e religião. As ruas tem alma!”
Em 1910, aos 29 anos, João do Rio foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, mas era vítima de preconceito, por ser negro e homossexual. Em seus textos, ele também expressava o seu desejo em ver uma sociedade em que não houvesse preconceito contra os homossexuais e que as mulheres pudessem votar.
No dia 23 de junho, João do Rio morreu após um infarto fulminante. A comoção pela morte foi tão grande na cidade, que estima-se que 100 mil pessoas foram ao enterro do cronista. Para homenagear o centenário da morte de João do Rio, selecionamos alguns dos seus principais livros. Veja a lista completa e boa leitura!
A alma encantadora das ruas
Em A alma encantadora das ruas, reunião de textos publicados na imprensa carioca entre 1904 e 1907, João do Rio percorre as ruas do Rio de Janeiro para reter a “cosmópolis num caleidoscópio”. A cidade vivia um processo de transformação acelerada, passando de corte modorrenta a ambiciosa capital federal. Ela será o palco das perambulações de João do Rio, o dândi para quem o hábito de flanar definia um modo de ser e um estilo de vida.
As religiões do Rio
Publicado inicialmente como reportagem, As religiões no Rio desenvolve um divertido levantamento dos mistérios das crenças no Rio de Janeiro do século XX: o protestantismo, o satanismo, os judeus, os espiritas, os católicos e muito mais.
Vida vertiginosa
Vida vertiginosa é uma coletânea de 25 crônicas publicadas na imprensa carioca e paulistana entre 1905 e 1910. Junta textos aparentemente díspares (um personagem do teatro de fantoches, uma visita noturna a uma favela, uma entrevista com um índio aculturado, uma reflexão sobre o futuro), reunidos sob a temática da velocidade, excessiva e inevitável, da vida moderna e da nostalgia por certos costumes em desaparição.
A bela madame Vargas
A Bela Madame Vargas é uma peça em três atos escrita por João do Rio, em 1912. Nela, o autor tematiza os aspectos da vida social no Rio de Janeiro no início do século XX, caracterizando as influências francesas no Brasil.
Psicologia urbana
Esta é a primeira publicação do cronista após a posse na Academia Brasileira de Letras. Neste livro, reúnem-se as palestras proferidas por João do Rio nos salões da cidade. A obra traz o discurso de recepção do cronista na ABL e quatro conferências sobre “estados d’alma” da cidade, como diria o cronista: casos sobre o amor, o figurino, o flirt e a mentira.
João do Rio – Vida, paixão e obra, de João Carlos Rodrigues
Esta biografia é fundamental para conhecer a vida e a trajetória do cronista João do Rio. Nasceu quase pobre e ascendeu socialmente, conquistando a fama e o ódio que ela desperta. Como jornalista, foi um renovador histórico da imprensa brasileira, fundindo a reportagem e a crônica num novo gênero personalíssimo.
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