Por que conversar com crianças e jovens sobre violência sexual?
Em 2020, o Brasil recebeu mais de 14 mil denúncias contra abuso infantil. Diálogo é fundamental no combate a essas violências. Confira!
Desde 2000, o mês de maio marca a luta contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes no país e o dia 18 desse mês. A partir da Lei Federal 9.970, o 18 de maio foi instituído como Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em todo território nacional e este mês tornou-se conhecido como Maio Laranja. De lá para cá, a iniciativa tem realizado anualmente uma série de ações de prevenção e conscientização a respeito da violência sexual infantil.
Mas, na prática, o combate à violência sexual infantil permanece como um desafio a ser superado pelo Brasil com urgência. Só em 2020, o país recebeu mais de 95 mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes e mais de 14 mil correspondiam a abuso e exploração sexual e estupro, além de violência física e psicológica. Os dados, que foram atualizados no mês passado, são do Disque 100, serviço gratuito que acolhe denúncias de violações de direitos e que pode ser acessado também por números no WhatsApp e Telegram (Direitoshumanosbrasilbot no aplicativo).
Ao analisar cada um desses casos, o cenário parece ainda mais complexo, uma vez que, de acordo com especialistas, 80% das situações de violência sexual contra crianças e adolescentes registrados acontecem dentro de casa e por iniciativa de familiares, vizinhos ou pessoas conhecidas.
De acordo com a psicóloga e especialista em saúde mental, Anna Carolina Baptista de Moura, identificar uma situação de abuso sexual praticado por alguém próximo é algo bastante complexo para crianças muito jovens justamente porque o vínculo que elas têm com essas pessoas é um vínculo de afeto. Por isso, Anna Carolina ressalta que a educação e a conversa sobre a violência sexual com as crianças são fundamentais nesse processo.
“O ideal é que, dependendo da faixa etária da criança, você consiga trabalhar essas informações com as crianças a partir de um viés em que ela consiga se sentir protegida. E, caso a criança identifique que algo possa não ser da sua proteção, ela tenha a capacidade de buscar ajuda através de uma outra figura adulta”, afirma.
Neste diálogo, a psicóloga destaca que é preciso levar em consideração a faixa etária das crianças, o repertório e o contexto familiar. De acordo com Anna Carolina, as informações não só devem ser compreensíveis às crianças como as conversas devem impulsioná-las a desenvolver os seus próprios recursos de autodefesa diante de uma situação de violência. Além disso, a especialista reforça que é fundamental ouvir o que as crianças e os adolescentes têm a dizer sobre aquelas situações.
“Nesse processo de falar sobre violência sexual, nós precisamos levar em consideração o processo de revitimização pelo qual essas crianças e jovens são muitas vezes submetidos aqui no Brasil. Então, apesar deles estarem falando sobre algo que já tem um peso muito grande, isso pode estar sendo agravado em cada uma das etapas por onde eles passam. Não ouvi-los é uma outra forma de violência.”, acrescenta.
Para dar continuidade a essa conversa, nós indicamos cinco livros que vão ajudar você a abordar da violência sexual com as crianças e os adolescentes. Confira a lista!
Leila, Tino Freitas e Thais Beltrame
Ambientado no fundo do mar, o livro de Thais Beltrame e Tino Freitas conta a história de Leila, uma baleia que, ao ser assediada pelo Barão, vive com medo e, então, desiste de nadar. Mas, com a ajuda de seus amigos, ela irá retomar a sua essência e a sua voz, dando fim às ameaças do agressor.
Meu Corpo É Especial, Cynthia Geisen
Em Meu Corpo É Especial, Cynthia Geisen oferece orientações aos adultos a respeito do modo como se deve conversar sobre o abuso sexual infantil com as crianças. O livro vai ajudar você a compartilhar com os pequenos as condições necessárias para que eles percebam se estão correndo perigo ou sofrendo algum tipo de violência.
Não me toca, seu boboca, Andrea Taubman
Escrito por Andrea Taubman e ilustrado por Thais Linhares, Não me toca, seu boboca nos apresenta Ritoca, uma menina que tem uma história para contar, meio difícil de entender, muito difícil de falar. O encontro com um tio gentil e sorridente acaba se tornando um pesadelo, do qual Ritoca e os seus amigos conseguem escapar. Ela logo reconhece que “se for de um jeito suspeito, ninguém deve tocar na gente!”.
Pipo e Fifi, Caroline Arcari e Isabela Santos
De maneira simples e descomplicada, Pipo e Fifi ensina crianças a partir de 4 anos a conhecerem mais sobre seus corpos, sentimentos e emoções. O livro apresenta atividades interativas que, entre outras coisas, orientam os pequenos de modo que eles saibam diferenciam toques de amor de toques abusivos, apontando caminhos para o diálogo, proteção e ajuda.
Segredo Segredíssimo, Odívia Barros
Adriana é uma menina triste que convive com um segredo segredíssimo. A sua sorte é que a amiga Alice é muito esperta e, ao saber do segredo, dá à ela um conselho conselhíssimo. Adriana segue o que a amiga lhe disse e, então, sua vida muda para melhor. Destinado à crianças, o livro de Odívia Barros aborda a questão do abuso infantil de maneira delicada, mas sem perder a firmeza.
Qual livro você vai ler com as crianças?
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