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Estante Entrevista: Confira os livros indicados por Ana Paula Araújo

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Jornalista conversou sobre seu primeiro livro, Abuso – A cultura do estupro no Brasil, durante live na sexta-feira (5)

Durante a série Estante Entrevista, no Instagram, conversamos com a jornalista Ana Paula Araújo sobre seu primeiro livro Abuso – A cultura do estupro no Brasil, lançado no fim de 2020. Nesta obra, a autora traz dados sobre estupros e abusos sexuais no país. Na live, realizada na última sexta-feira (5), a apresentadora do Bom Dia Brasil, da TV Globo, contou sobre seu processo de apuração e escrita do livro.

Foram quatro anos de pesquisas e entrevistas com vítimas, especialistas e criminosos. Ela lembra que precisou conciliar o trabalho na TV com a apuração do livro-reportagem. Para isso, precisou fazer algumas viagens de “bate e volta” e também aproveitar os períodos livres em fins de semana e feriados.

“Isso trazia uma custo, não só de cansaço físico, mas também emocional. Uma vez, peguei um feriado para ir para a Ilha do Marajó. Era muito longe, eu tinha poucos dias para ficar lá. Então, isso significava fazer uma entrevista atrás da outra com vítimas, com estupradores. São sempre entrevistas pesadas e difíceis de fazer”, conta a jornalista.

Quando eu estava com as vítimas, era muito difícil porque me colocava no lugar delas.”

O caso da Ilha de Marajó, inclusive, é um dos mais marcantes do livro e também foi citado durante a entrevista. Ana Paula Araújo e uma freira, que luta pelos Direitos Humanos no Pará, precisaram intervir no caso de duas adolescentes que eram estupradas pelo pai. O homem já havia sido denunciado por vizinho e preso, mas depois foi solto e continuou abusando sistematicamente das vítimas.

“Fomos até os fundos da cozinha, conseguimos conversar com as meninas, enquanto o pai estava lá na frente conversando com o pesquisador do livro e com o delegado, negando tudo, como sempre. As meninas contaram que o pai tinha voltado pior da cadeia. A freira até falou: ‘A gente vai procurar a polícia, vai dar queixa’. Só que a gente estava com o policial ali na hora. A gente contou para o delegado e ele falou que podia tirar as meninas dali agora. ‘Vocês topam tirá-las daqui?’. E eu falei: ‘Eu topo'”, lembra a jornalista.

Ana Paula reforça que o livro foi muito difícil e delicado de ser apurado, por causa da densidade das entrevistas. “Tem gente que eu entrevistei que tinha a mesma idade que a minha filha. Eu via o sofrimento daquela mãe e a minha vontade era de chorar junto. Com os criminosos também é muito difícil pela revolta. Muitos assumem tranquilamente”, explica.

Na live, Ana Paula também indicou livros que a influenciaram na escrita de Abuso. Confira as indicações e boa leitura!


Fome – Uma autobiografia do (meu) corpo, de Roxane Gay

Nesta autobiografia, a autora best-seller Roxane Gay fala sobre como, após sofrer um abuso sexual aos 12 anos, passou a utilizar seu próprio corpo como um esconderijo contra os seus piores medos. Ao comer compulsivamente para afastar os olhares alheios, por anos Roxane guardou sua história apenas para si. Até conceber este livro. Esta não é uma narrativa bem-sucedida de perda de peso. E este também não é um livro que Roxane gostaria de escrever. Entretanto, é uma história que precisa ser contada, e ela o faz com seu estilo contundente e impetuoso, ainda que dotado de um humor mordaz, características que a tornaram uma das vozes mais marcantes de sua geração.


Mulheres de minha alma, de Isabel Allende

Isabel Allende fala da experiência de ser mulher e mostra como o feminismo sempre esteve presente em sua vida. Ao comparar a atual revolução feminista com as revoluções próprias de sua vida, Isabel Allende celebra a veia feminista que corre pulsante em toda sua obra literária. A escritora nos oferece uma emocionante narrativa de sua relação com o feminismo e com o fato de ser mulher, reivindicando, ao mesmo tempo, o direito de viver a vida adulta com sentimento, prazer e plena intensidade. A grande autora chilena nos convida a acompanhá-la nessa viagem pessoal e emocional em que rememora seus vínculos com o feminismo desde a infância até hoje.


Mulheres empilhadas, de Patrícia Melo

Mulheres empilhadas é uma obra de ficção, mas todas as personagens desse livro existem de fato. As protagonistas dessa história são as mulheres. Todas elas: as já feitas e as meninas, as gordas e as magras, as negras e as pardas, as indígenas e as descendentes de imigrantes, as analfabetas e as com grau universitário. Nesse romance intenso, que acompanha a trajetória pessoal de uma advogada, Patrícia Melo fala sobre a matança sistemática de mulheres no Brasil, que atinge democraticamente todas as classes sociais.


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Gabriela Mattos

Gabriela Mattos

Gabriela é jornalista, editora do Estante Blog e foi repórter em um jornal carioca. Viciada em comprar livros, é apaixonada por literatura contemporânea e jornalismo literário.

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