[Resenha] “Dom” é um retrato do Rio de Janeiro
Lançado em abril, livro de Tony Bellotto mistura ficção e realidade ao contar história de Pedro Dom, chefe de quadrilha de assaltos a residências
Pedro Dom ficou conhecido nas manchetes de jornais do Rio de Janeiro, no início dos anos 2000, por ser o chefe de uma quadrilha especializada em assaltos a residências. Nascido em Copacabana, em uma família de classe média, ele envolveu-se com drogas ainda na infância e logo começou a frequentar bocas de fumo. Dom e seu grupo invadiam casas e roubavam, principalmente, joias, dinheiro e objetos de luxo.
Quase 20 anos depois de sua morte, a história é recontada agora no livro Dom, de Tony Bellotto, lançado em abril pela Companhia das Letras. No livro, o escritor e guitarrista do Titãs mistura realidade e ficção. A obra narra o início do envolvimento de Dom com as drogas – aos 9 anos, experimentou maconha com os amigos, próximo à Ladeira dos Tabajaras, no bairro onde morava. Depois, viciou-se em cocaína e começou a envolver-se com o crime.
Ao retratar a história do bandido, a narrativa também mostra a vida dos pais de Dom, principalmente de seu pai, Victor Lomba, um ex-policial que fez parte do Esquadrão de Ouro, grupo de extermínio criado durante a ditadura militar para combater as drogas. Victor saiu do esquadrão após o nascimento das outras duas filhas e começou a dedicar-se a outras atividades, como marcenaria.
Lá estava um paradoxo concreto: ele havia passado a vida inteira lutando contra a droga e agora era incapaz de tirar o próprio filho do vício.”
Já conhecido na literatura policial, Bellotto utiliza elementos do gênero para desenvolver a trama. Na obra, o escritor mostra como Dom cresceu no mundo do crime. Sua ascensão foi construída, inclusive, com ajuda da corrupção policial e até mesmo de reportagens dos grandes jornais cariocas, que, por vezes, ainda que de forma indireta, aumentavam o ego do bandido.
O livro de Tony Bellotto é, principalmente, um retrato do dia a dia do Rio de Janeiro, formado pelas desigualdades sociais do asfalto e das favelas. Um estado marcado até hoje pela política de guerra às drogas e por casos de corrupção em instituições.
‘Aqui no Rio essa Al-Qaeda não se criava, bicho’, Betinho diz. ‘Vai por mim. Ia ter que pagar propina pra polícia, pro Comando Vermelho e até pros fiscais da prefeitura’ (…)”.
Que tal conhecer Dom? Tony Bellotto conversará com a gente sobre o novo livro e literatura policial no Brasil, no dia 29 de junho, em live no Instagram. A conversa encerra a nossa série Junho Literário, que teve a participação de escritores e especialistas desde o início do mês.
Selecionamos alguns livros com temáticas relacionadas ao assunto que você pode gostar também. Confira a lista!
O dono do morro – Um homem e a batalha pelo Rio, de Misha Glenny
A história do líder do tráfico de drogas da Rocinha contada a partir de um intenso trabalho jornalístico. O Dono do Morro é a história impressionante de um homem comum forçado a tomar uma decisão que transformaria sua vida. Como Antonio Francisco Bonfim Lopes, um jovem pai trabalhador, se transformou em Nem, o líder do tráfico de drogas na Rocinha? A partir de uma série de entrevistas na prisão de segurança máxima onde o criminoso cumpre sentença, Misha Glenny narra a ascensão e a queda do traficante, assim como a tragédia de uma cidade.
Abusado – O dono do Morro Dona Marta, de Caco Barcellos
Para se entender toda essa violência urbana instalada no Rio de Janeiro, é necessário compreender como pensam e como agem os criminosos que impõem o terror na cidade. Este livro-reportagem de Caco Barcellos é uma verdadeira lição sobre a lógica, os meandros e o modus operandi das grandes corporações criminosas que comandam o tráfico de drogas e outras atividades criminosas no Estado. Através da história de Juliano VP (codinome de um conhecido traficante carioca), temos um retrato histórico da ocupação do morro pelo Comando Vermelho, principal facção criminosa no Estado, e da implantação de sua cruel disciplina.
Cabeça de porco, de Luiz Eduardo Soares, MV Bill e Celso Athayde
Cabeça de Porco é o resultado de um trabalho em duas fontes: entrevistas e filmagens feitas por MV Bill e seu empresário Celso Athayde nos últimos 15 anos em favelas de nove estados brasileiros sobre crianças e jovens que vivem no mundo do crime, suas razões e a dimensão humana de suas vidas. A esta pesquisa original, relatada com a emoção de quem assistiu de perto à situações perigosas, se associam os textos do antropólogo Luiz Eduardo Soares – um conjunto de registros etnográficos apurados ao longo dos últimos sete anos, sobre juventude, violência e polícia.
Cidade partida, de Zuenir Ventura
Este livro é um retrato da violência no Rio de Janeiro. Durante dez meses, o jornalista Zuenir Ventura frequentou a favela de Vigário Geral. Ao mesmo tempo, acompanhava a mobilização da sociedade civil contra a violência. Em Cidade partida, ele faz o relato de uma guerra cheia de lances surpreendentes.
Cidade de Deus, de Paulo Lins
Neste livro, Paulo Lins narra as transformações sociais e espaciais sofridas pelo bairro carioca Cidade de Deus desde a década de 1960. Para além das modificações urbanas, a obra também promove reflexões a respeito da consolidação do tráfico de drogas na comunidade a partir dos anos 1990, dando início a uma guerra.
Capão pecado, de Ferréz
A miséria é senhora em Capão Redondo. As pessoas matam por drogas, por honra, por vingança, por machismo, por um nada. E por amor, vale a pena morrer? Pois em Capão Redondo também se vê o amor, que nasce escondido e cresce proibido, colocando em cheque a amizade de dois rapazes que têm em comum a violência do bairro onde vivem e o interesse por uma morena muito mais esperta do que qualquer um poderia imaginar.
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