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O cotidiano sob o olhar das poesias

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Projeto do poeta Ithalo Furtado transforma histórias de pessoas comuns em poemas. Ação já passou por cidades como Teresina e Poços de Caldas

Escuto histórias e escrevo poemas“. Por meio desse projeto inusitado, criado em 2018, o poeta piauiense Ithalo Furtado transforma relatos de pessoas comuns em poesia. A ação percorre as cidades brasileiras e, até hoje, passou por lugares como Poços de Caldas, em Minas Gerais, Manaus, no Amazonas, e Teresina e Parnaíba (cidade-natal do artista), no Piauí.

Inspirado na artista Ana Teixeira, que tricotava em praças enquanto as pessoas contavam histórias de amor, o projeto surgiu quando Ithalo voltou pela segunda vez a Poços de Caldas para visitar alguns conhecidos. “Pedi para uma das minhas amigas escrever Escuto histórias e escrevo poemas em uma plaquinha, fui a um boteco da cidade e peguei duas cadeiras para colocar na Praça Pedro Sanches”, lembra.

A primeira participante da iniciativa foi uma menina, de 4 anos. “Mas ela pensou que ganharia um desenho”, brinca o poeta. Depois, dezenas de pessoas quiseram conhecer o projeto e começaram a contar histórias da própria vida, como amores, traições e conflitos.

É muito gratificante, me sinto cumprindo uma lacuna no mundo moderno, que é a da escuta, da pausa e da empatia. Sou tão ansioso e lido com depressão há tantos anos, que eu sou o meu próprio paradoxo nessas horas.”

Após Poços de Caldas, Ithalo participou de uma ação do Setembro Amarelo, na cidade de Caldas, também em Minas, e começou a rodar pelo Brasil. No município local, ele fez diferente: levou as poesias para a Casa das Samaritanas, onde mulheres em condições precárias recebem abrigo.

“Eram mulheres que sofreram algum tipo de violência doméstica, que estavam em situação de risco. Por meio do projeto, você cria mais empatia, se coloca mais no lugar do outro e o escuta mais. Quando coloco as duas placas e me proponho a escutar alguém, o ambiente do entorno também muda. Uma intervenção sempre muda o clima do local”, afirma.

Histórias marcantes

Na ação, Ithalo recorda-se de algumas histórias marcantes. Uma delas é de uma mulher que nasceu na rua, em São Luís do Maranhão, e depois foi adotada por uma família. Durante anos, ela retornava à cidade para tentar encontrar sua mãe biológica, que era viciada em crack, mas precisou desistir da procura após se casar. “Ela precisou fazer uma escolha: parar de procurar a mãe e seguir a vida, deixar aquilo que é imutável”, diz.

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Há também casos divertidos e curiosos. Uma vez, um senhor contou que viu a mesma mulher em três festas, em três datas diferentes. Nas duas primeiras vezes, ele não havia reconhecido. “Mas depois, no terceiro dia, o senhor percebeu que era a mesma pessoa e eles começaram a se relacionar. Estão namorando há três anos”, relembra.

A arte é a minha vida e sempre esteve presente de forma muito orgânica. Com esse projeto, saí totalmente da minha zona de conforto.”

Ithalo destaca que o objetivo do projeto não é entender e nem resolver os problemas nas pessoas, mas, sim, transformá-los em obra de arte. “As pessoas esquecem que eu sou um artista. Às vezes, fica um pouco pesado, não consigo ouvir tantas histórias. Mas, não tem muito jeito, você acaba se sensibilizando”, reforça.

Para levar as histórias além das praças, Ithalo criou um financiamento coletivo na internet para arrecadar verba para a publicação de um livro. A obra reuniria os relatos que ele ouve nas ruas. “O meu objetivo é recolher as histórias em junho e julho, e lançar os exemplares em agosto”, acrescenta.


Gabriela Mattos

Gabriela Mattos

Gabriela é jornalista, editora do Estante Blog e foi repórter em um jornal carioca. Viciada em comprar livros, é apaixonada por literatura contemporânea e jornalismo literário.

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