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André Diniz e a adaptação de “O idiota”, um clássico de Fiódor Dostoiévski

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HQ é marcada por poucos diálogos e textos. Em entrevista ao Estante Blog, quadrinista fala sobre carreira, processo criativo e depressão

Foi amor à primeira vista. Assim que começou a ler O idiota, de Fiódor Dostoiévski, o quadrinista André Diniz apaixonou-se pela história e pelos personagens de um dos maiores romances da literatura mundial. No clássico, o autor retrata a vida do jovem Míchkin, que retorna à Rússia após ficar anos internado em um sanatório suíço para tratar sua epilepsia. Ao chegar no país, o protagonista envolve-se em um triângulo amoroso, que inclui a beleza enlouquecedora de Nastácia Filíppovna.

O quadrinista conta que decidiu que trabalharia de alguma forma com o livro. “Não visualizava como faria, pois é um romance longo e verborrágico”, afirma Diniz. No entanto, o profissional driblou esse desafio e resolveu adaptar a obra em uma HQ. O objetivo do artista era produzir algo novo que mantivesse o espírito do livro.

Diniz optou por um caminho diferente: de um romance denso, com quase 700 páginas, ele criou quadrinhos quase sem palavras, marcados pela linguagem visual, xilogravuras e artes africanas. O artista afirma que uma adaptação deve ser autônoma, mesmo derivada de outra obra.

“A literatura é uma história que é contada, enquanto os quadrinhos são uma história mostrada (assim como o cinema). Isso faz toda a diferença, e não assumir isso é uma armadilha para qualquer adaptação. Até o resultado final, foi uma jornada que parecia não ter fim”, destaca o autor, que teve o primeiro contato com as obras de Dostoiévski aos 13 anos, com uma versão reduzida de Crime e castigo.

O idiota, de André Diniz

Sobre o autor

Nascido em setembro de 1975, André Diniz brinca que começou a fazer quadrinhos antes mesmo de saber ler e escrever. “Não tive amigos que gostassem mais de quadrinhos do que a média, então foi uma escolha instintiva e solitária. Foi a linguagem que peguei para me expressar desde cedo e não larguei mais. Até um tempo atrás, eu dizia de brincadeira que fazia quadrinhos para manter a minha sanidade, e hoje falo isso a sério. É a minha forma de me comunicar com o mundo, de tentar entender as pessoas, a sociedade, a mim mesmo”, enfatiza.

Enquanto criava a adaptação de O idiota, Diniz precisou interromper os trabalhos por causa de uma depressão. Durante pelo menos dois anos, o quadrinista sofreu de fadiga crônica, falta de concentração, estafa e péssima memória. Apesar da doença, ele acredita que a situação permitiu que ele visse com mais distanciamento o que já havia sido feito na obra.

“Reescrevi boa parte do roteiro e recomecei os desenhos praticamente do zero. Se cada autor pudesse, a cada trabalho, deixá-lo guardado na gaveta um ou dois anos antes de publicá-lo, seria maravilhoso. Um intervalo desses permitiria ao autor esquecer da própria obra e relê-la com distanciamento e perceber o que está bom e o que deve ser mudado. É claro que esse exercício fica impraticável na prática. Mas, como fui forçado a fazê-lo desta vez, foi recompensador”, analisa.

Conheça as outras obras de André Diniz!


Mwindo, com Jacqueline Martins

Ao lado de Jacqueline Martins, André Diniz conta a história do rei Shemwindo. Quando o personagem convoca sua aldeia para fazer uma assembleia, ninguém pode imaginar a importância do seu comunicado. O rei proíbe que qualquer uma de suas sete esposas grávidas dê a luz a um menino. No entanto, Nyamwindo, a última das esposas, passa por uma experiência inusitada: parece que o bebê vai sair pelo lado errado. É Mwindo, o primeiro filho homem do rei que resolveu nascer diferente.

Mwindo, de André Diniz e Jacqueline Martins


Morro da favela

Escrita e desenhada por André Diniz, Morro da favela retrata a vida do fotógrafo Maurício Hora, morador do Morro da Providência, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Essa graphic novel é necessária para se entender o dia a dia das favelas cariocas pelo ponto de vista de um morador, que buscou na fotografia sua identidade e acabou fazendo um registro que entrou para a história da cultura carioca.

Para o quadrinista, Morro da favela foi tão difícil de produzir quanto O idiota. “Por lidar com vidas de gente real, com histórias controversas de quem já morreu e com temas espinhosos, como o tráfico no morro, este também foi um tremendo desafio”, acrescenta.

Morro da favela, de André Diniz


Duas luas, com Pablo Mayer

Escrito por André Diniz e Pablo Mayer, Duas luas conta a história de Nilo, proprietário do Bar do Lourenço. O personagem está interessado em vender o estabelecimento para se dedicar mais à amada Natali e à filha que está para nascer. Mas as coisas não são assim tão simples e, enquanto a venda não acontece, Nilo terá de enfrentar uma série de questões, tentando manter sempre a sua integridade moral.

Duas luas, de André Diniz


Sete vidas, com Antonio Eder

Publicado por André Diniz e Antonio Eder, o livro Sete vidas aventura-se pela terapia de vidas passadas. O resultado dessa experiência de regressão são as sete vidas mostradas nesta obra, que levarão o leitor a experimentar épocas, culturas e lugares diversos, da Itália da Idade Média, passando pelo Peru do século XIX, até chegar ao Brasil do século XXI.

Sete vidas, de André Diniz e Antonio Eder


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Gabriela Mattos

Gabriela Mattos

Gabriela é jornalista, editora do Estante Blog e foi repórter em um jornal carioca. Viciada em comprar livros, é apaixonada por literatura contemporânea e jornalismo literário.

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