[Resenha] “A casa”, de Chico Felitti, destrincha história de João de Deus
João Faria foi preso, em 2018, por assédio sexual e estupro. Em livro-reportagem, jornalista revela depoimentos assombrosos sobre médium
No dia 7 de dezembro de 2018, quatro mulheres denunciaram em rede nacional os casos de abuso sexual e estupro praticados pelo médium João Teixeira de Faria, mais conhecido como João de Deus. Ao todo, a polícia e o Ministério Público receberam mais de 500 depoimentos de vítimas naquela ocasião. Os detalhes dessa história assustadora foram revelados no livro A casa, do jornalista Chico Felitti, lançado em abril.
Os crimes ocorriam na Casa Dom Inácio de Loyola, na cidade de Abadiânia, em Goiás, onde ele atendia milhares de fiéis, inclusive estrangeiros. O líder espiritual também fazia turnês internacionais em outros países, como Peru, Estados Unidos e Suíça. Na maioria dos casos, o médium era procurado por pessoas que estavam passando por algum tipo de dificuldade ou problema de saúde. Com a promessa de curá-las, João de Deus fazia cirurgias espirituais e físicas, como raspagem dos olhos com faca de cozinha e cortes na barriga,
Havia um padrão nos depoimentos das vítimas: ele as chamava para sua sala particular e começava a praticar os atos. Para escrever o livro-reportagem, Chico Felitti entrevistou centenas de vítimas e pessoas que frequentavam a Casa Dom Inácio de Loyola. Mais do que os depoimentos, o livro revela os bastidores da cidade de Abadiânia, que cresceu exponencialmente após a chegada de João de Deus.
(…) “Ele andava com homens armados até os dentes. Como é que as pessoas iam denunciar um homem que tinha dez, onze homens, cercando ele, de guarda-costas? Eu tenho medo até hoje de falar sobre ele”.
O jornalista, que participou de uma live no Festival Literário da Estante Virtual (FLEV), destrincha a história e mostra como o médium tinha influência na própria cidade, no meio artístico e na política brasileira. Grandes nomes de diferentes setores na sociedade frequentavam e divulgavam a Casa, o que ajudou a fortalecer o poder que ele exercia no local.
João Teixeira de Faria foi condenado a 40 anos de prisão. Além de estupro e abuso sexual, ele foi indiciado por falsidade ideológica, corrupção de testemunha e coação e posse ilegal de armas. Em março deste ano, a Justiça concedeu prisão domiciliar por causa da pandemia do coronavírus.
Assim como todo livro-reportagem, A casa é uma obra essencial para que essa parte do passado do país não seja esquecida e, principalmente, repetida. Conheça outros livros que vão ajudar você a conhecer a história do Brasil e do mundo.
Ricardo e Vânia, de Chico Felitti
Uma das reportagens de maior repercussão nos últimos tempos, a história de Ricardo – apelidado ofensivamente de “Fofão da Augusta” – surge retrabalhada a partir de uma nova descoberta: a trajetória de Vânia, sua namorada. Em 2017, um leito do Hospital das Clínicas de São Paulo foi ocupado por um homem sem identidade. Há 20 anos, ele circulava pela região das ruas Augusta e Paulista, onde liderou uma trupe de palhaços, distribuiu panfletos e pediu esmolas. Sua aparência lhe rendeu a alcunha de Fofão da Augusta e o status de lenda urbana. Por trás do apelido ofensivo estava um cabeleireiro disputado nos anos 1970 e 1980, que falava francês e inglês, era esquizofrênico, foi drag queen, artista de rua, teve dinheiro e frequentou o underground.
O pior dos crimes: A história do assassinato de Isabella Nardoni, de Rogério Pagnan
Construído em ritmo de thriller, O pior dos crimes esmiúça o trágico caso que conseguiu estarrecer a opinião pública de um país rotineiramente violento. Em 29 de março de 2008, Isabella, de 5 anos, foi atirada ainda com vida pela janela do sexto andar do apartamento do pai, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá, na zona norte da capital paulista, e morreu pouco depois de chegar ao hospital.
Todo dia a mesma noite, de Daniela Arbex
Todo dia a mesma noite traz uma reportagem definitiva sobre a tragédia que abateu a cidade de Santa Maria em 2013. A obra relembra e homenageia os 242 mortos no incêndio da Boate Kiss. Neste livro, a jornalista Daniela Arbex reconstitui de maneira sensível e inédita os eventos da madrugada de 27 de janeiro de 2013. Foram necessárias centenas de horas dos depoimentos de sobreviventes, familiares, equipes de resgate e profissionais.
Holocausto brasileiro, de Daniela Arbex
A premiada jornalista Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade. Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia.
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