‘Narciso em férias’: o relato de Caetano Veloso sobre a prisão na ditadura militar
No documentário selecionado para o Festival de Veneza, Caetano Veloso fala sobre os 54 dias em que ficou preso durante a ditadura
Lançado no dia 7 de setembro, “Narciso em Férias” fez a sua estreia mundial no 77º Festival de Veneza, na Itália, e depois foi disponibilizado com exclusividade no Globoplay. Com direção de Renato Terra e Ricardo Calil, dupla também responsável por “Uma Noite em 67”, o documentário
de 83 minutos traz um testemunho íntimo e profundo de Caetano Veloso a respeito dos 54 dias em que ficou preso durante a ditadura militar.
Em 1968, Caetano foi detido em seu apartamento na cidade de São Paulo sob o argumento de que deveria ser interrogado por militares. No entanto, as autoridades nada disseram a respeito do interrogatório. Pelo contrário, o músico baiano foi imediatamente detido e demorou um mês para saber o real motivo de sua prisão e a de Gilberto Gil, seu parceiro musical com quem dividia a fundação do movimento tropicalista no Brasil.
Em uma das cenas do longa-metragem, o artista de 78 anos lê as páginas do interrogatório que reúne o depoimento dado à polícia na época. O documento foi recuperado recentemente nos arquivos da instituição graças à iniciativa do pesquisador Lucas Pedretti e chegou até Caetano Veloso através de Clara Flaksman, esposa de seu filho, Moreno.
De acordo com a versão dos militares, que se encontra presente no interrogatório, Caetano Veloso foi acusado por “terrorismo cultural”, depois de ter executado o Hino Nacional na companhia de Gilberto Gil e da banda Os Mutantes em tom subversivo durante um show na boate Sucata (RJ).
O baiano, porém, nega que tenha mudado a letra original do Hino Nacional e defende que seria impossível executá-lo seguindo um arranjo tropicalista. “Não pode ser. O hino tem versos hendecassílabos e na Tropicália as sílabas são mais longas e poéticas”, conclui.
Hey Jude
Além do reencontro com memórias de um período tão difícil, Caetano revisita uma série de canções que atravessaram o seu imaginário no período em que estava preso. “Hey Jude”, dos Beatles, era uma delas e, segundo o músico, quando ele a ouvia em algum radinho de rádio na prisão era sinal de as coisas iriam melhorar. “Aquele final, com aquele coral repetido, aqueles acordes maiores, eu tomava aquilo como sendo um anúncio de coisas boas”, afirma.
Parte da trilha sonora do documentário, a regravação de Caetano Veloso de “Hey Jude” está disponível para audição no Youtube e nas plataformas de streaming.
Narciso em Férias
O documentário dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil recebeu o mesmo nome de um capítulo presente no livro “Verdade Tropical”, em que Caetano Veloso compartilha detalhes sobre a sua prisão. O título foi retirado do romance “Este Lado do Paraíso”, do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald, e faz referência aos quase 60 dias em que artista ficou sem sem se olhar no espelho enquanto estava preso.
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Já vi Anne Frank e é muito contundente!