[Resenha] Livro discute a opressão estética vivida por mulheres negras
Talvez precisemos de um nome para isso: ou o poema de quem parte é o livro de estreia da poeta carioca Stephanie Borges
Lançado em 2019 pela Companhia Editora de Pernambuco, Talvez precisemos de um nome para isso: ou o poema de quem parte inaugura a carreira literária da jornalista, poeta e tradutora brasileira Stephanie Borges. Dividido em dez partes de um longo poema, o livro narra as agruras vividas por mulheres negras que, desde a infância, são submetidas à opressão de um cruel imaginário estético criado e regido pela sociedade branca.
Nos cabelos encontra-se o ponto nevrálgico da discussão. Desde muito jovens, essas mulheres são reféns de um sistema que as obriga a alisarem as madeixas para que se sintam belas e socialmente aceitas. Nesse sentido, a autora parte da discussão sobre beleza e identidade para refletir também sobre a importância do empoderamento feminino negro.
Com versos contundentes e citações que vão desde dizeres religiosos a fragmentos de memórias e indicações musicais, Stephanie descreve os invasivos e dolorosos processos químicos de alisamento na mesma medida em que exalta a beleza contida no natural. Assim, a autora também oferece às leitoras explicações sobre composição capilar, bem como dicas de produtos, cuidados e receitas eficientes para o tratamento dos cachos.
Talvez precisemos de um nome para isso trata-se de um belíssimo relato poético de uma escritora que, em um exercício de autoanálise, abre caminhos importantes para a quebra de padrões e o fortalecimento da identidade e autoestima das mulheres negras. Em tempos de isolamento e reflexão, que tal transformar a dor e opressão em doses de autoamor? Ler a poesia de Stephanie Borges pode ser um bom começo.
Aqui, nós preparamos uma lista com dicas de outros livros de poesia contemporânea, escritos por autoras brasileiras. Confira!
Pé do ouvido, Alice Sant’Anna
Resultado de uma pesquisa de mestrado sobre a poesia japonesa, o livro de Alice Sant’Anna reúne um conjunto de versos que vão da tradição moderna ao lirismo e fazem da obra uma das grande revelações da poesia brasileira nos últimos tempos.
Um útero é do tamanho de um punho, Angélica Freitas
Em seu segundo livro, a poeta gaúcha Angélica Freitas transgride imagens comumente associadas ao gênero feminino, como as que são anunciadas em capas de revistas, para jogar luz e refletir sobre o lugar ocupado pela mulher na sociedade contemporânea.
Querem nos calar, Mel Duarte
Organizado pela poeta Mel Duarte e com prefácio de Conceição Evaristo, “Querem nos calar” reúne poesias de 15 mulheres slammers de diferentes regiões do país. Os textos que compõem a antologia surgiram a partir de batalhas de poesia falada (slam poetry) e abordam temáticas como o racismo, o machismo e a desigualdade social.
Sereia no copo d’água, Nina Rizzi
O quinto livro de poesias da poeta, historiadora, tradutora e editora brasileira Nina Rizzi nos mostra em versos contundentes que a nós não seria possível falar com uma voz tão encantadora como a das sereias.
e se alguém o pano, Eliane Marques
Em “e se alguém o pano”, a poeta gaúcha Eliane Marques aborda questões que atravessam a população negra e a de pessoas excluídas de uma forma geral, uma vez que seus poemas materializam também a condição vivida pelos apátridas, refugiados e os sem-nome.
Um buraco com meu nome, Jarid Arraes
Primeiro livro de poesia da escritora e cordelista Jarid Arraes, “Um buraco com meu nome” é destinado às pessoas que se encontram deslocadas na sociedade. Dividida em quatro partes – Selvageria, Fera, Corpo Aberto e Caverna -, a obra mergulha fundo no íntimo de cada um que precisa de abrigo e revira lembrança pessoais da escritora, passando por episódios de intolerância e machismo, mas também de momentos de poesia e cordel com o pai e o avô.
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