Jornalismo literário humaniza e aprofunda histórias
Estilo jornalístico surgiu na década de 1960, nos Estados Unidos. Entre os principais autores estão Truman Capote, Tom Wolfe e Gay Talese
Criado na década de 1960, o jornalismo literário é um estilo que une texto jornalístico à narrativa literária. Entre as principais características desse gênero estão a subjetividade e a produção de reportagens mais aprofundadas e detalhistas, sem deixar de lado a humanização dos personagens envolvidos nas histórias. Também conhecido como Novo Jornalismo ou literatura não-ficcional, o movimento surgiu na imprensa americana e reuniu nomes como Truman Capote, Tom Wolfe, Gay Talese e Norman Mailer.
Um dos principais jornalistas vivos dos Estados Unidos, Gay Talese é conhecido por seu perfeccionismo e detalhismo. Nascido em 7 de fevereiro de 1932, em Nova Jersey, o profissional é capaz de fazer uma reportagem perfeita sem ao menos encontrar seu entrevistado, como foi o caso do perfil Frank Sinatra está resfriado. Publicado em 1966, o texto é considerado uma das melhores reportagens do mundo.
No entanto, o pioneiro no uso de técnicas literárias no jornalismo foi Truman Capote, que era conhecido por ser excêntrico, polêmico e corajoso. Ele nasceu em 30 de setembro, em Nova Orleans, e teve uma infância conturbada por causa do divórcio dos seus pais. Além das reportagens, Capote deixou um extenso legado literário com romances, contos, peças teatrais e crônicas.
Todas as pessoas têm disposição para trabalhar criativamente. O que acontece é que a maioria jamais se dá conta disso.”
Outro expoente do jornalismo literário foi o escritor Tom Wolfe. O jornalista nasceu na Virgínia, em 1930, e tornou-se doutor em estudos americanos pela Universidade de Yale. Entre seus principais livros estão Sangue nas veias, A fogueira das vaidades e Os eleitos. Wolfe morreu, aos 88 anos, em maio deste ano, após ser internado em um hospital para tratar uma infecção.
Ao lado de Talese, Capote e Wolfe, Norman Mailer também foi um dos principais jornalistas do século XX nos Estados Unidos. Nascido em 31 de janeiro de 1923, o profissional conquistou duas vezes o Prêmio Pulitzer. Ele chegou a estudar Engenharia Aeronáutica na Universidade de Harvard, mas foi no jornal da instituição que começou a se interessar por escrita e leitura.
Jornalismo literário no Brasil
Assim como nos Estados Unidos, o jornalismo literário também marcou a década de 1960 no Brasil, principalmente no Jornal da Tarde e na Revista Realidade. José Hamilton Ribeiro era um dos principais jornalistas brasileiros que escreviam para a Realidade e publicou 15 livros. O profissional nasceu em 1º de agosto de 1935, em Santa Rosa de Viterbo, em São Paulo, e atualmente é repórter e editor do programa Globo Rural, da TV Globo.
Assim como José Hamilton Ribeiro, o jornalista Joel Silveira também ficou conhecido como um dos pioneiros do jornalismo literário no país. Com 40 obras publicadas, o profissional ganhou o Prêmio Machado de Assis, o principal da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1998. Ele conquistou ainda os prêmios Esso, Jabuti e Golfinho de Ouro. Joel Silveira morreu, aos 88 anos, no dia 15 de agosto de 2007.
Não sei se com o passar do tempo comecei a ver as coisas com mais clareza ou se estou ficando míope.”
Atualmente, as principais jornalistas literárias brasileiras são Eliane Brum, colunista do jornal El País, e Daniela Arbex, repórter especial da Tribuna de Minas. Eliane já publicou seis livros, sendo apenas um romance, e conquistou prêmios, como o Jabuti de melhor reportagem, em 2007, com a obra A vida que ninguém vê.
Já Daniela publicou três livros-reportagem e ganhou repercussão com o livro Holocausto brasileiro, que também foi adaptado em um documentário. Para você conhecer mais sobre o jornalismo literário, selecionamos nove das principais obras. Confira!
Fama e anonimato, de Gay Talese
Fama e anonimato reúne três séries de reportagens. Em um dos textos, “Frank Sinatra está resfriado”, Gay Talese faz um retrato certeiro do cantor, sem que tenha conseguido entrevistá-lo. Nos outros capítulos, o autor também mostra o universo urbano de Nova York e a saga da construção da ponte Verrazzano-Narrows. Publicado no Brasil pela primeira vez em 1973, o livro se tornou uma raridade disputada em sebos e livrarias.
A menina quebrada, de Eliane Brum
Para a jornalista Eliane Brum, a vida pode ser tudo, menos rasa. Por isso, ela adota a profundidade em suas colunas na revista Época, para escrever sobre diversos temas, como a Amazônia e as relações familiares. O livro A menina quebrada reúne um compilado dos melhores textos da profissional e dá ao leitor uma fotografia do nosso tempo, visto pelo olhar de uma repórter que observa as ruas disposta a ver. E esse olhar incomoda quem lê.
A luta, de Norman Mailer
Em 1974, o lutador Muhammed Ali perdeu o título mundial dos pesos-pesados após se recusar a lutar no Vietnã. Depois, ele desafia o campeão George Foreman – é a autonomia negra conta o establishment branco. A luta é um retrato magistral das tensões políticas dos anos 1970 e nos faz acompanhar a maior luta de boxe do século XX como se ninguém conhecesse o seu resultado.
O repórter do século, de José Hamilton Ribeiro
O repórter do século reúne sete reportagens vencedoras do Prêmio Esso. Uma das mais famosas é Eu estive na guerra, que é um relato da cobertura do jornalista José Hamilton Ribeiro na Guerra do Vietnã, em 1968. Na ocasião, ele pisou em um campo miado e precisou amputar uma das pernas.
A sangue frio, de Truman Capote
Publicado inicialmente em 1966, A sangue frio relata o assassinato brutal de uma família na cidade de Holcomb, no interior do estado do Kansas, nos Estados Unidos. Na reportagem, Truman Capote relata desde a ideia inicial do crime até a execução dos assassinos. É um dos clássicos do autor.
Holocausto brasileiro, de Daniela Arbex
Em Holocausto brasileiro, Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, em Minas Gerais. A jornalista traz à luz um genocídio cometido pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população. Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força.
Sangue nas veias, de Tom Wolfe
Criador de Clássicos Contemporâneos com a fogueira das vaidades – mais de um ano nas listas dos mais vendidos Tom Wolfe retorna à ativa com mais um livro no qual o jornalismo se coloca a serviço da literatura. Em Sangue nas Veias o escritor visita inferninhos, entrevista imigrantes, strippers russas e fisioculturistas, para retratar uma Miami repleta de conflitos culturais, única cidade do mundo onde povos com línguas e culturas diferentes tomaram controle de uma das urnas. Dilemas morais, limites éticos e conflitos étnicos dão a narrativa, talhada com precisão e humor ácido por um dos maiores escritores norte-americanos.
Hiroshima, de John Hersey
A partir de relatos de seis sobreviventes, John Hersey reconstitui o momento da explosão da bomba atômica na cidade japonesa Hiroshima, em 1945. A narrativa do jornalista americano deu rosto à catástrofe da bomba – o horror tinha nome, idade e sexo. Ao optar por um texto simples, sem enfatizar emoções, o autor deixa fluir o relato oral daqueles que realmente viveram a história.
A feijoada que derrubou o governo, de Joel Silveira
O jornalista Joel Silveira reuniu histórias políticas de grandes figuras da República, como João Goulart e Jânio Quadros, e de outras menos conhecidas do público no livro A feijoada que derrubou o governo. Um dos textos aborda a vida de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, a raposa mineira que “tirava a meia sem tirar o sapato”. Seja no relato de sua experiência como correspondente na Segunda Guerra, na observação da fauna política brasileira e no relato histórico despretensioso, Joel mostra como o jornalismo pode ser saboroso e original.
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Por favor, não digam que o jornalismo literário surgiu nos anos 60. O que surgiu nos anos 60 foi o New Journalism, mas dizer “jornalismo literário ou New Journalism” é ignorar completamente que o Jornalismo Literário existe desde décadas antes, desde Euclides da Cunha, João do Rio… ignorar Joseph Mitchell, ignorar John Hersey Ignorar obras como Elogiemos os Homens Ilustres, O Segredo de Joe Gould, Hiroshima e outras.
New Journalism foi um momento – muitos nem consideram um “movimento” por ter inclusive discordâncias de alguns de seus artífices e por não ter um “marco inicial” – que é PARTE da história do jornalismo literário