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“O passado colonial está muito presente no Brasil contemporâneo”, diz quadrinista Marcelo D’Salete

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Artista venceu o Prêmio Eisner, principal premiação internacional de quadrinhos. Dividido em quatro histórias, Cumbe fala sobre escravidão

No mercado de quadrinhos há mais de 15 anos, Marcelo D’Salete conquistou reconhecimento internacional ao ganhar o Prêmio Eisner, principal premiação de quadrinhos do mundo, na categoria Melhor Edição Americana de Material Estrangeiro. Publicado inicialmente em 2014, Cumbe é dividido em quatro histórias que retratam a luta contra a opressão da escravidão, com temáticas que mostram roubo de bebês, escravos fugidos e rebeliões em quilombos.

Com o título traduzido para Run for it, a graphic novel recebeu uma nova edição nos Estados Unidos em 2017, mas já havia sido traduzido na Itália, França, Portugal e Áustria. No Brasil, a palavra “cumbe” remete à esperança, sol e força. No fim da HQ, há um glossário com todas as definições das palavras do dialeto banto utilizadas nas tramas.Cumbe, de Marcelo D'Salete

Em entrevista ao Estante Blog, D’Salete lembra que, antes de publicar Cumbe, a ideia era produzir uma obra sobre Zumbi dos Palmares, um dos pioneiros na resistência contra a sociedade escravocrata. Mas o tema acabou ganhando destaque em Angola Janga, obra que levou 11 anos de pesquisa e criação pelo autor. Já o quadrinho vencedor do Eisner reúne quatro histórias baseadas em pesquisas e livros teóricos sobre a escravidão.

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“Mais do que falar de escravidão, o meu objetivo era criar personagens interessantes e reconstituir um pouco aquele momento mesmo que seja a partir do nosso olhar de hoje. Não é algo documental sobre o passado, mas uma ficção inspirada em alguns fatos, com direito a poesia e outras resoluções”, ressalta D’Salete. Nascido em São Paulo, em 1979, ele começou a publicar quadrinhos no início dos anos 2000.

Para o quadrinista, o período escravocrata deixou marcas na nossa sociedade atual, principalmente em relação à desigualdade. “O passado colonial está muito presente no nosso Brasil contemporâneo. No pós-abolição, não roupemos com essa lógica de exclusão, tivemos uma marginalização frequente na história”, destaca D’Salete, acrescentando que o assunto deve ser abordado em diversos formatos, como nos quadrinhos, nos cinemas e nos livros.

Antes do Eisner, o profissional já havia sido indicado Troféu HQ Mix, em 2012, na categoria Edição Especial Nacional, com a obra Encruzilhada. Com Cumbe, ele também foi indicado na mesma categoria do prêmio e em outras duas: Desenhista Nacional e Roteirista Nacional. Conheça outras obras de Marcelo D’Salete!


Encruzilhada

Encruzilhada reúne cinco histórias que se passam entre becos, vielas e condomínios da periferia de São Paulo. A tensão se sobressai justamente da aparente normalidade que permeia as tramas, como a da pequena vendedora de DVDs piratas e a da jovem que consegue comprar um celular. Por meio de traços incertos e “imperfeitos”, o quadrinista retrata o cotidiano marginal dessa grande metrópole brasileira. 
Encruzilhada, de Marcelo D'Salete


Angola Janga

Angola Janga, “pequena Angola” ou Palmares. Apesar do nome, Macaco, a capital da cidade, tinha uma população equivalente a das maiores cidades do Brasil da época. Formada no século XVI, Angola Janga cresceu, organizou-se e resistiu aos ataques dos militares holandeses e das forças coloniais portuguesas. Tornou-se o grande alvo do ódio dos colonizadores e um símbolo de liberdade para os escravizados. Seu maior líder, Zumbi, virou lenda e inspirou a criação do Dia da Consciência Negra.

Angola Janga, de Marcelo D'Salete


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Gabriela Mattos

Gabriela Mattos

Gabriela é jornalista, editora do Estante Blog e foi repórter em um jornal carioca. Viciada em comprar livros, é apaixonada por literatura contemporânea e jornalismo literário.

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