Exílio e abandono marcam romance polifônico de Carola Saavedra
Com Armas Sonolentas será lançado no fim de junho. Autora fala sobre processo criativo e sua relação com a literatura
Conhecida por utilizar linguagem poética nos textos, a escritora Carola Saavedra conquista os leitores com uma escrita sensível. Seu novo livro, Com armas sonolentas, que será lançado no dia 21 de junho, promete ser diferente de tudo o que a autora já publicou até o momento. O romance polifônico retrata a história de três mulheres, que vivenciam o exílio e o abandono em um desencontro de idiomas, lugares e experiências. Ela explica que a obra foi escrita a partir do inconsciente, com mais espaço para o desconhecido. “Diria que eu não sei o livro, o livro é que me sabe”, enfatiza.
Na história, a personagem Anna é uma aspirante a atriz, de origem humilde, que vê em um cineasta alemão a possibilidade de ser famosa e ter reconhecimento. Depois que eles se conhecem, a mulher aceita se mudar para a Alemanha, onde a realidade é bem diferente de suas expectativas, principalmente pelo idioma desconhecido.
Já a melancólica jovem alemã Maike resolve estudar português e descobre sua improvável ligação com o Brasil e a língua. Há ainda uma terceira personagem, sem nome, que é obrigada a sair de casa no interior de Minas, aos 14 anos, para trabalhar como doméstica em uma casa de família no Rio de Janeiro. Com armas sonolentas ainda não está disponível na Estante Virtual, mas a autora marca presença no site com suas outras obras, como Flores Azuis e Paisagem com dromedário.
Sobre a autora
Vencedora do Prêmio APCA de melhor romance com o livro Flores Azuis, Carola Saavedra nasceu em Santiago, no Chile, em 1973, e se mudou para o Brasil com a família aos três anos. A escritora já morou na Alemanha, onde cursou mestrado em Comunicação, na Espanha e França. A autora conquistou a categoria de Jovem Autor no Prêmio Rachel de Queiroz com o livro Paisagem com dromedário. Ela publicou ainda as obras Toda terça e O inventário das coisas ausentes’. Em entrevista ao Estante Blog, Carola fala sobre seu novo romance, processo criativo e a relação com a literatura. Confira!
Leia a entrevista completa com Carola Saavedra
1) Como e quando começou sua relação com a literatura? O que a literatura significa para você?
Minha relação com a literatura começou quando eu aprendi a ler. É algo muito básico para mim, muito antigo. A literatura significa isso, uma respiração, uma forma de estar no mundo, de olhar para ele e para mim mesma. Não conseguiria viver de outra forma.
2) Como foi o processo de escrita do seu novo livro, “Com Armas Sonolentas”? De que forma esse livro pode surpreender o leitor? Quais são seus diferenciais em relação aos outros?
Em primeiro lugar é um livro que foi escrito a partir daquilo que eu não sei, a partir do inconsciente, com muito mais espaço para o desconhecido do que os anteriores, eu não sabia muito bem sobre o que estava escrevendo, eu diria que eu não sei o livro, o livro é que me sabe. Há muito menos controle ali, menos medo também. Em termos práticos, é um livro muito onírico, com vários elementos fantásticos: animais que falam, mortos que falam, não há uma distinção clara entre sonho, alucinação e realidade, talvez porque a verdade apareça em ambos os lados.
3) O seu novo livro retrata o exílio e o abandono de três mulheres em meio a idiomas e territórios distintos. De que forma suas experiências na Alemanha, França e Espanha interferem em suas obras literárias? Por que?
Com certeza, de certa forma tudo o que um escritor vive interfere em sua escrita, de forma consciente ou não. Eu narro por exemplo a solidão do exílio, que pode ser geográfico ou emocional, uma criança não desejada pelos pais, por exemplo, ela é de certa forma um exilado no mundo, não pertence a nada nem ninguém, ela vai ter que criar seu próprio pertencimento.
4) Quais são suas referências literárias? Elas te influenciaram no novo romance? De alguma forma, essas referências também influenciam na sua escrita?
É muito difícil dizer se alguma referência literária específica influenciou esse romance, acho que tudo me influenciou, tudo o que li. Até uma receita de bolo, até um livro ruim. É um campo inacessível.
5) Com frequência, você publica nas redes sociais textos sobre obras de artes plásticas. No seu livro Paisagem com dromedário, os protagonistas são artistas plásticos. De onde surgiu seu interesse por esse tipo de arte e de que maneira influencia seu trabalho literário?
Eu me interesso pelo fazer artístico em geral, pelo processo criativo, artes plásticas, teatro, fotografia etc. E muitas vezes é ali, nessas bordas da literatura onde eu vou buscar inspiração.
6) Você já afirmou diversas vezes que renega o seu primeiro livro, Do lado de fora. Por que? De que forma a obra ajudou na sua formação como escritora?
Sim, eu uso esse termo, mas na verdade renegar é uma palavra ruim, O que eu quero dizer é que ali eu ainda não sabia muito bem o que queria fazer na literatura, ainda não tinha um projeto literário, isso eu só fui compreender a partir do Toda terça. Por exemplo, percebi que o que realmente me interessava era o romance, e não o conto (digo, como escritora,claro).
7) Você recebeu os prêmios APCA de melhor romance com Flores Azuis e o Rachel de Queiroz com Paisagem com dromedário. Prêmios são sempre subjetivos, mas na sua concepção qual é o diferencial desses dois livros?
Não sei responder essa pergunta, é difícil para o autor ter uma visão panorâmica/distanciada do próprio trabalho. Talvez um crítico veja ali uma resposta que eu não encontro.
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