O que dizem os escritores sobre a rainha Dona Ivone Lara
A dama do samba partiu ontem (16) por insuficiência cardiorrespiratória. Segundo a família, ela deixou acerca de 40 canções inéditas.
Rio de Janeiro, 1965. A primeira mulher a fazer um samba-enredo numa escola estava prestes a insurgir pela cena carnavalesca. Dona Ivone Lara que, desde a infância, recebeu a influência musical dos seus pais foi considerada a “Dama do Samba”. Fruto da união entre um violonista de sete cordas com uma cantora soprano afiadíssima. Suas composições ultrapassam as fronteiras do senso comum – trazendo à tona temáticas de negritude, amor, saudade e sentimentos da vida cotidiana. Na última sexta-feira (13), ela comemorou seu último aniversário e, na noite de ontem (16), se despediu da família, amigos e fãs, aos 96 anos.
Embora sua infância tenha sido enlaçada por toda essa afetividade cultural materna e paterna, a cantora e compositora Dona Ivone Lara ficou órfã muito cedo e, por isso, foi criada pelos tios. É nesse período que a rainha aprende a tocar cavaquinho e se apaixona de vez pelo samba. Aos 25 anos, ela disse sim para Oscar Costa – presidente da escola de samba Prazer da Serrinha. Juntos, eles tiveram dois filhos.
Uma estrela na música brasileira
Conhecida pelo seu bom humor e generosidade de sobra, a sambista excepcional enfrentou as barreiras do preconceito de gênero e raça. Formada em Enfermagem, ela atuou por 37 anos na profissão até ter o privilégio de se dedicar exclusivamente à carreira musical. Entre os sucessos disparados de suas composições, destacamos ‘Sonho meu’ – nas vozes de Maria Bethânia e Gal Costa, ‘Acreditar’, ‘Tendência’, ‘Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço’, ‘Sorriso Negro’, ‘Alguém me Avisou’. Já entre os intérpretes que regravaram suas canções estão Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Maria Bethânia, Clara Nunes, Roberta Sá, e outros artistas. O sepultamento de Dona Ivone Lara foi realizado hoje na quadra do Império Serrano – sua escola de coração, em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro.
Confira quais são as 5 obras que homenagearam a personalidade da Dona Ivone Lara com louvor!
Ivone Lara – a dona melodia, de Katia Santos
Enfermeira, dona de casa, assistente social, cantora e compositora reverenciada no Brasil afora, Dona Ivone Lara se desloca entre todos esses papéis com graça, bom humor e sabedoria. A narrativa deste livro está centrada em sua carreira, sua trajetória artística, seus companheiros na música e na vida, e em fatos e aspectos que a constituem como a artista completa que ela é. Nesse percurso, entramos de cheio no mundo e na história do samba e das escolas de samba, numa construção textual repleta de falas, discursos e depoimentos.
Dona Ivone Lara – a primeira dama do samba, de Lucas Nobile
Após 37 anos atuando na área da saúde, Ivone Lara migrou exclusivamente à carreira artística. Foi pioneira ao quebrar barreiras em um ambiente dominado por homens, sendo a primeira autora de um samba de uma agremiação da elite do carnaval e a primeira figura feminina da ala de compositores de uma escola de samba. Compõe desde os 12 anos e coleciona parcerias com diversos artistas. Considerada uma das maiores melodistas da música brasileira, ganhou o apelido de ‘Primeira-Dama do Samba’ por compor, cantar com aberturas de vozes e improvisos, tocar um instrumento, dançar o seu miudinho inconfundível e fazer o próprio figurino.
Primeira dama. A música de Dona Ivone Lara, de Leandro Braga
Pianista, compositor e arranjador, Leandro Braga organizou um livro de partitura oriundo de um disco de samba. A obra é uma linda homenagem à compositora com belos arranjos para sambas clássicos como ‘Sonho Meu’, ‘Acreditar’, ‘Mas quem disse que eu te esqueço’, além da música ‘Primeira Dama’, uma composição do próprio autor especialmente para Dona Ivone Lara.
Dona Ivone Lara – álbum de retratos, de Zélia Duncan
Uma homenagem a doze personagens que fazem parte da cuktura Brasileira. As imagens mostram o talento da infância, o passado da cidade, o encontro com seu trabalho, trajetória, sua história de vida, que ajudará a tornar familiar ao leitor, o íntimo e o artista como Dona Ivone Lara, Zezé Motta, Ferreira Gullar, Jards Macalé, Cacá Diegues, Lan e Ruy Castro – nomes diferentes ramos de expressão cultural, mas referências fundamentais em suas áreas de trabalho.
Nasci pra sonhar e cantar – Dona Ivone Lara: a Mulher do samba, de Mila Burns
A proposta do livro, além de contar a carreira de Dona Ivone Lara, é contextualizar a presença das mulheres, compositoras especialmente, na música popular brasileira, assim como as adversidades e preconceitos elas tiveram de superar. “Percebo a figura de Dona Ivone como uma representação de tenacidade, de vontade e, sobretudo, inteligência. Ela traça a própria vida, é senhora de seu destino, não espera as coisas acontecerem.”, conta a autora. A obra é um retrato da trajetória da cantora, que passa pelos anos em que ela se dividia entre o samba e a profissão, enfermeira, até o estouro tardio como cantora.
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Qual música de Dona Ivone Lara é a sua preferida?
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