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[Resenha] “Garotas mortas” evidencia o machismo latente na sociedade

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Apesar de não ser jornalista, Selva Almada faz detalhados relatos jornalísticos sobre três casos de feminicídio na Argentina

Lançado no Brasil em maio deste ano, o livro Garotas mortas caiu como uma luva em meio às discussões sobre feminismo, garantia de direitos e combate ao machismo. Na obra, a escritora Selva Almada denuncia e investiga três casos de feminicídio na Argentina, na década de 1980, que até hoje não foram solucionados. Apesar de não ser jornalista, a autora oferece aos leitores detalhados e apurados relatos – que lembram os instigantes textos de jornalismo literário – sobre as vítimas.

Uma das personagens é Andrea Danne, de 19 anos. A jovem foi assassinada com uma única punhalada no coração enquanto dormia em casa. O segundo caso conta a história da adolescente María Luisa Quevedo, de 15 anos, que foi estrupada, estrangulada e abandonada em um terreno baldio. Já o terceiro e último relato é de Sarita Mundín, de 20 anos. Ela ficou desaparecida durante nove meses, até os seus ossos serem encontrados presos em galhos de uma árvore, perto de um rio.

Garotas mortas, de Selva Almada

A relação de Selva Almada com as três histórias começou bem antes do livro. De alguma forma, todos os casos impactaram a vida da escritora, principalmente nas fases da infância e da adolescência. Além de entrevistas com parentes e testemunhas, a autora utiliza suas próprias experiências e lembranças como fios condutores da narrativa da obra.

“Eu tinha treze anos e, naquela manhã, a notícia da garota morta me chegou como uma revelação. Minha casa, a casa de qualquer adolescente, não era o lugar mais seguro do mundo. Você podia ser morta dentro da sua própria casa. O horror podia viver sob o mesmo teto”, diz um dos trechos.

Garotas mortas é um livro curto, mas intenso. Ao mesmo tempo que causa um espanto, a descrição minuciosa dos detalhes das situações, das características e das personalidades das personagens criam empatia dos leitores com as vítimas.

Não me lembro de nenhuma conversa específica sobre violência de gênero, nem que minha mãe fizesse alguma advertência expressa sobre o tema. Mas ele sempre estava presente: quando falávamos de Marta, a vizinha espancada pelo marido (…)”

Sem a pretensão de encontrar os culpados, a obra mostra que o feminicídio ainda é latente na sociedade e o que machismo deve ser combatido no nosso cotidiano. Diariamente, ouvimos notícias sobre violência contra a mulher, mas nem sempre esses casos são resolvidos e tratados de acordo com a sua gravidade. Muitos deste casos não são nem estampados nas manchetes dos meios de comunicação.

Sobre a autora

Destaque na literatura contemporânea latino-americana, Selva Almada nasceu em 5 de abril de 1973, na cidade Entre Ríos, na Argentina. Ela tem nove livros publicados, mas, no Brasil, apenas dois títulos foram lançados: O Vento que Arrasa, em 2015, e Garotas Mortas, em 2018. A autora argentina foi uma das convidadas da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano.

LEIA TAMBÉM: Selva Almada participa da Flip 2018


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Leonardo Loio
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Leonardo Loio

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