Gal Costa: uma vida dedicada à música
Morre Gal Costa, ícone da música popular brasileira, aos 77 anos
Uma das maiores vozes da música popular brasileira, a cantora e compositora Gal Costa, 77 anos, faleceu nesta quarta-feira (10) em São Paulo. Segundo a assessoria da artista, a causa morte foi um infarto fulminante. O velório da cantora será aberto ao público e acontecerá na Assembleia Legislativa de São Paulo, na sexta-feira (11) das 9h às 15h. O enterro será fechado apenas para amigos próximos e familiares. Gal deixou um filho único, Gabriel Costa Penna Burgos, de 17 anos.
Ícone da contracultura e da tropicália, Gal Costa, batizada como Maria da Graça Costa Penna Burgos, nasceu em Salvador, Bahia, no dia 26 de setembro de 1945. Estreou, em 1964, ao lado de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, no espetáculo Nós, Por Exemplo, que aconteceu no Teatro Vila Velha, no Passeio Público de Salvador.
Ainda em meio à repressão da ditadura militar, ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia, Gal formava o grupo Doces Bárbaros, batizado com o nome de uma música de Caetano: “Os Mais Doces Bárbaros”. O show de estreia do grupo aconteceu no Anhembi, em São Paulo, em junho de 1976.
“Com amor no coração/Preparamos a invasão/Cheios de felicidade/Entramos na cidade amada.”
Trecho da canção “Os Mais Doces Bárbaros”, de Caetano Veloso
O grupo Doces Bárbaros viajou pelo país a fim de comemorar os dez anos de carreira de cada integrante. No repertório, apresentaram músicas inéditas e trouxeram à tona novas referências, diversificando a nossa música popular. Entre as canções, estavam “Fé Cega, Faca Amolada”, “São João, Xangô Menino”, “ Esotérico” e “Índio e Pássaro Proibido”. A turnê foi registrada no documentário Os Doces Bárbaros (1976), dirigido por Jom Tob Azulay.
Viva, Gal
Gal Costa deixou um legado rico e importante para a cultura brasileira, sua discografia conta com mais de 32 álbuns. Intérprete de inúmeros sucessos, ao longo da carreira, gravou canções de Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Cazuza, entre outros. O primeiro álbum gravado pela cantora foi “Domingo”, lançado em 1967 e em parceria com Caetano Veloso.
Participou também, em 1968, do álbum Tropicália ou Panis et Circencis. O disco, marco do movimento tropicalista, é um trabalho coletivo que reuniu os músicos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, o grupo Os Mutantes, Nara Leão, Rogerio Duprat, Torquato Neto e José Carlos Capinam. Nesse álbum, Gal gravou a canção “Baby”, o primeiro sucesso de sua carreira.
Intitulado “Gal Costa”, o primeiro disco solo de Gal foi lançado em 1969, é considerado como um dos melhores discos nacionais de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Nele, encontramos canções como “Não identificado”; “Sebastiana”; “Lost in paradise”; “A coisa mais linda que existe”; e ” Deus e o amor”.
Segundo Leonardo Davino, professor de literatura brasileira da Uerj e pesquisador de canção popular, “a voz de Gal Costa é a certeza de que uma pessoa de carne e osso existe. Essa assinatura da existência de um ser canoro e dançante tomava vida no corpo de Gal. Ela se recolocava continuamente no posto da artista que corre riscos, experimenta, cria; fazia da voz trabalhada na experiência no palco, da vida um aparelho à disposição do cantar, do viver”, diz Leonardo Davino.
Gal Costa não só marcou a história da música brasileira, mas virou referência para muitos artistas. Entre as músicas fundamentais no repertório de Gal, estão “Vapor barato”, “Meu Bem, Meu Mal”, “Baby”, “Meu nome é Gal”, “London London” , “Vaca Profana” , “Namorinho de Portão” e “Divino Maravilhoso”. Já entre referências musicais, estão Janis Joplin, Jimi Hendrix, Roberto Carlos e João Gilberto, que evidenciam o perfil eclético de Gal.
Viva, MPB
Para você conhecer mais sobre universo da música popular brasileira e de Gal Costa, selecionei alguns livros que abordam o contexto histórico e períodos decisivos para o desenvolvimento da MPB, bem como biografias de nomes importantes da nossa música. Confira!
Não se assuste, pessoa! As personas políticas de Gal Costa e Elis Regina na ditadura militar, Renato Contente
Em um contexto político sufocante, Gal Costa e Elis Regina tomaram as rédeas da resistência contra a ditadura militar no campo musical brasileiro. Não se tratou necessariamente de militância formal ou direta, mas da construção de narrativas – em álbuns, performances, espetáculos e entrevistas – cujos efeitos eram um misto de denúncia, relato do momento histórico e a expressão de subjetividades daqueles que vivenciavam o regime antidemocrático. A partir de uma série de disputas simbólicas, ambas assumiram o papel de porta-estandarte da resistência em momentos distintos: Gal entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, e Elis da segunda metade da década de 1970 até pouco antes de sua morte precoce, em 1982. Este livro se propõe a investigar o processo de transferência simbólica desse papel de destaque na música popular brasileira de uma cantora para a outra, bem como os efeitos gerados nas carreiras de ambas a partir de determinadas escolhas e a (des)construção pública de suas personas políticas ao longo da ditadura militar.
Gal Costa, Leonardo Lichote
Organizado por Leonardo Lichote, Marcus Preto e Omar Salomão, o livro de fotografias “Gal Costa” conta com depoimentos e entrevistas da cantora – uma delas ao lado de Maria Bethânia –, contribuições de nomes como Caetano Veloso e Zé Simão, além de textos assinados por importantes estudiosos da cultura brasileira – entre eles Antonio Risério, Júlio Diniz, Pedro Duarte e Renato Vieira. Textos e fotos tratam da influência de João Gilberto, do período com os Doces Bárbaros, da parceria artística com Waly Salomão, de histórias deliciosas como a da gravação de “Um dia de domingo” com Tim Maia, e da consagração de Gal como uma das matriarcas da MPB.
Tropicália: a história de uma revolução musical, Carlos Calado
Carlos Calado conta a trajetória do movimento que mudou a MPB por meio de uma abrangente reconstituição histórica baseada em entrevistas, farta pesquisa em arquivos e material iconográfico em grande parte inédito. “O que se tem, então, é uma história radiante, que faz o leitor enveredar pela cultura pop brasileira nos anos de 67 e 68.” (Pedro Alexandre Sanches, Folha de S. Paulo).
Verdade Tropical, de Caetano Veloso
Ao narrar sua formação cultural – que inclui música, cinema, artes plásticas, literatura e filosofia –, Caetano Veloso não se limita a escrever uma autobiografia. Nessa mistura de memórias, ensaio e História, tendo como eixo central a eclosão do tropicalismo em meio aos anos de chumbo, o autor esmiúça momentos decisivos da ditadura militar e os nomes com quem travou apaixonadas conversas.
Novos Baianos: A história do grupo que mudou a MPB, Luiz Galvão
As páginas deste livro revelam as histórias de um dos principais grupos da Música Popular Brasileira nos últimos cinquenta anos: Novos Baianos. Luiz Galvão, um dos fundadores, é quem conta os bastidores de um dos símbolos da afirmação da liberdade e da democracia no Brasil. Moraes Moreira, Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), Jorge Gomes, Pepeu Gomes, Dadi, Charles Negrita, Baixinho, Bola Morais, Gato Felix, Paulinho Boca de Cantor e o próprio Galvão inscreveram Acabou Chorare e Preta Pretinha no imaginário brasileiro e promoveram a versão tropical do que seria a cultura hippie, com um ideário de solidariedade e prazer. O livro conta também as desventuras do jovem grupo que surgiu na década de 1970, a relação com as drogas, as trapalhadas com a polícia e o cotidiano intenso vivido em comunidade.
Uma história da música popular brasileira: das Origens à Modernidade , Jairo Severiano
Jairo Severiano, um dos maiores conhecedores de nossa música, assumiu aqui uma tarefa enciclopédica: contar em um único volume os mais de duzentos anos de história da música popular brasileira, do século XVIII até os dias de hoje. Estruturada em quatro “tempos”, a obra contextualiza os principais gêneros e movimentos da música brasileira, bem como os compositores e intérpretes que melhor souberam representá-los.
Maria Bethânia – Guerreira Guerrilha, de Reynaldo Jardim
À época do Regime Militar no Brasil, prendiam-se não só pessoas, mas também palavras e ideias. Foi assim que Maria Bethânia Guerreira Guerrilha, livro de Reynaldo Jardim, publicado originalmente em 28 de novembro de 1968, foi recolhido das livrarias pelo AI-5, 15 dias depois de lançado. Seus cinco mil exemplares foram confiscados e queimados. Maria Bethânia Guerreira Guerrilha é um longo poema, que reúne o vigor da criatividade de Reynaldo Jardim e a potência artística de Maria Bethânia. Concebido pelo autor como uma polifonia coral acompanhada de tambores, o livro é uma ode heroica e que tem um cuidados o trabalho tipográfico, ainda revolucionário para a época, por usar frases com diferentes estilos de fontes.
Tropicalista Lenta Luta, Tom Zé
O livro se divide em quatro partes. A primeira é o texto autobiográfico que dá título ao conjunto – memórias de Irará, na Bahia, histórias da música, trajetória do artista. Na segunda, foram reunidos 25 textos escritos em ocasiões diversas – para jornais, revistas, sites – e uma carta. Os assuntos vão da música à política, dos livros às cidades, da ecologia às lembranças pessoais. Depois disso vêm todas as letras, incluindo o disco novo ´Imprensa Cantada 2003´. A quarta parte é a transcrição de uma longa entrevista, concedida ao músico Luiz Tatit e ao editor da Publifolha, Arthur Nestrovski, em que esses e outros assuntos se combinam. ´Tropicalista Lenta Luta´ traz ainda a discografia completa de Tom Zé e uma biografia musical.
Chega de saudade, Ruy Castro
Chega de saudade reconstitui a vida boêmia e cultural carioca dos tempos da Bossa Nova. Para compor este fascinante mosaico envolvendo música e comportamento, Ruy Castro ouviu dezenas de seus participantes: compositores, cantores, instrumentistas – além dos amigos e inimigos deles.O resultado é uma narrativa que se lê como um romance, cheia de paixões e traições, amores e desamores, lances cômicos e trágicos – protagonizados por João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Newton Mendonça, Nara Leão, Carlinhos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Maysa, Johnny Alf, Sylvinha Telles, Elis Regina e pela legião de jovens que eles seduziram com seu charme e suas canções.
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