Livros que nenhuma mulher deveria ler, segundo historiadora ativista
Rebecca Solnit afirma que alguns livros “são manuais de instruções explicando os motivos pelos quais as mulheres não passam de escória”
Na luta contra o machismo, as mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço na sociedade, inclusive no meio literário. No entanto, apesar de terem conquistado direitos ao longo do tempo, elas ainda são vítimas diárias de preconceito, desigualdade no espaço de trabalho e assédio, até mesmo em situações corriqueiras. Você já viu algum artigo parecido com este: “Oitenta melhores livros que todos os homens deveriam ler”?
Este foi o exemplo dado pela historiadora ativista Rebecca Solnit, no livro A mãe de todas as perguntas, que reúne 12 ensaios. A autora lembra que uma revista americana divulgou uma lista com 79 obras publicadas por homens e apenas um título escrito por uma mulher.
“O exame da lista, cheia de livros mais machos de toda a história, montes de livros de guerra, e só um deles escrito por um gay assumido, serviu para me lembrar que, se é duro ser mulher, em muitos aspectos é mais duro ainda ser homem, esse gênero que precisa defender e demonstrar o tempo inteiro sua masculinidade”, afirma Rebecca.
A partir dessa lista, a autora sugere uma nova seleção, com 80 livros que nenhuma mulher deveria ler. “Só acho que alguns livros são manuais de instruções explicando os motivos pelos quais as mulheres não passam de escória ou mal existem, a não ser como acessórios”, relembra. Confira, abaixo, os autores citados por Rebecca.
Ernest Hemingway
Nascido em 21 de julho de 1899, o escritor Ernest Hemingway é considerado um dos principais escritores americanos do século XX. Em seu livro, Rebecca Solnit critica a relação do autor com a escritora Gertrude Stein, que era homossexual.
“Se o cara aprendeu com Gertrude Stein, não devia ser homofóbico, misógino e antissemita e, além disso, matar animais de grande porte nunca deveria ser sinônimo de masculinidade”, analisa a historiadora, fazendo uma referência ao gosto de Hemingway por caça e pesca. No livro Paris é uma festa, ele inspira-se nos encontros com figuras polêmicas, como James Joyce e F. Scott Fitzgerald, além de Gertrude Stein.
Norman Mailer
Vencedor duas vezes do Prêmio Pulitzer, o jornalista Norman Mailer é um dos representantes do Novo Jornalismo, ao lado de Tom Wolfe e Truman Capote. Em 1960, o escritor foi preso após esfaquear sua segunda mulher, Adele Miller. No entanto, ele foi solto dias depois. Um dos seus principais livros é O super-homem vai ao supermercado, no qual o autor reúne reportagens clássicas de convenções presidenciais nos Estados Unidos.
William Burroughs
O escritor William Burroughs nasceu em 5 de fevereiro de 1914, na cidade de Missouri, nos Estados Unidos. Em 1951, ele matou sua esposa, Joan, por “acidente”. À época, ele alegou que os dois estavam “brincando” de reproduzir uma cena de Guilherme Tell, na qual ele deve acertar uma flecha na maçã sobre a cabeça de seu filho.
No entanto, no lugar da maçã haviam colocado um copo na cabeça de Joan e no lugar do arco e flecha, um revólver. No seu livro, Rebecca diz que Mailer e Burroughs “iriam lá para o alto da minha lista de nãos, pois há inúmeros escritores que podemos ler e que não esfaqueavam nem atiravam na esposa”.
Um dos livros mais conhecidos de Burroughs é Almoço nu. Na obra, ele traz um redemoinho de imagens e situações que aos poucos se tornam cruelmente familiares.
Charles Bukowski
O escritor Charles Bukowski não está incluído na lista de Rebecca, mas a autora diz que ele “poderia estar”. Ela cita uma fala da editora da revista n+1, Dayana Tortorici: “Nunca vou esquecer de quando li Cartas na rua de Bukowski e me senti horrível com o modo como o narrador descreve as pernas grossas das feiosas. Creio que foi a primeira vez que me senti rejeitada por um livro com o qual eu tentava me identificar”.
Assim como nas obras do autor, Cartas na rua tem um alto teor de autobiografia. “Tudo começou como um erro”, diz a primeira frase do livro. O “erro” do escritor foi se candidatar à vaga de carteiro temporário no início dos anos 1950. Quando percebeu, já estava há 14 anos em uma rotina maçante, ainda mais para um homem de meia-idade sempre de ressaca.
Jack Kerouac
O escritor Jack Kerouac ficou conhecido pelo livro On the road – Pé na estrada, que, segundo Rebecca, também poderia ser incluído na lista. “Quando li pela primeira vez, percebi que o livro supunha que você se identificasse com o protagonista, que se acha muito sensível e profundo mesmo quando larga a jovem namorada mexicana, deixando-a com todos os problemas que criou para ela”, conta.
Rebecca diz ainda que “o livro supõe que você não se identificará com a moça, que não põe o pé na estrada e não chega a ser tratada com muito mais do que um mero receptáculo descartável”.
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