O fantástico mundo de desacontecimentos de Eliane Brum
No mês de março, iniciamos nossa campanha A todas as mulheres que habitam em mim. Entre as grandes escritoras, está a autora Eliane Brum.
Uma coisa é fato: para falarmos sobre Eliane Brum, antes de mais nada, é preciso ousar! Sensibilidade é um dom e a capacidade de traduzi-la em palavras é uma arte. Há escritas que nos despertam sentimentos. Seus textos transcendem a interpretação e deixam sempre aprendizados de vida. Para os que procuram por uma leitura convidativa, aconcheguem-se!
Jornalista e documentarista, Eliane é dona de uma escrita leve e, ao mesmo tempo, profunda. Não poupa nossa imaginação, pois suas palavras têm o poder de penetrar até o inconsciente. E essa característica peculiar da escritora começou logo na infância, em Ijuí, município do Rio Grande do Sul. Suas afinidades com leituras e com linguagens, de longe, já eram perceptíveis. Embora fosse uma criança silenciosa, ela amava ouvir histórias, arriscava-se ao perigo e à travessura da curiosidade.
Aos 10 anos de idade, a jornalista já havia devorado a coleção de José de Alencar inteira – mesmo achando a leitura um pouco monótona em sua maioria. Outros autores como Erico Verissmo, Jorge Amado, Dostoiévski, e Monteiro Lobato também ganharam espaço no coração de Eliane, que aprendeu a associar poesia, contos e narrativas com o cotidiano.
Autoconhecimento + desacontecimentos
É assim que nascem os “desacontecimentos”. Será que podemos enquadrá-los em um tipo de gênero literário? Talvez não. Na verdade, eles são respostas que Eliane encontrou ao assumir o desafio de “construir significados” e descrever como cada um cria seu próprio sentido para cada dia vivido. Desacontecimentos são histórias comuns narradas de forma extraordinária. É a fuga da mídia para noticiar o que há de mais belo no mundo escondido: a existência humana.
Como repórter, cronista e colunista, a autora tem uma vasta bagagem de publicações. Selecionamos os 5 melhores livros sobre desacontecimentos que prometem viciar sua leitura (e seu coração!). Confira!
Meus desacontecimentos, 2014
Quantos silêncios cotidianos têm potencial para se transformar em uma narrativa? Com maestria, Eliane tenta responder à pergunta falando sobre como foi o desafio de buscar as história da própria vida com outra perspectiva. Em cada página, personagens fantasticamente reais incorporam-se: a irmã morta, que era a mais viva entre todos; a avó, comedida em tudo, menos na imaginação; a família que precisou de uma perna fantasma para andar no novo mundo; as tias que viravam flores para não murchar. Muita poesia, emoção e autoconhecimento!
A menina quebrada, 2013
Como colunista no site da revista Época, as segundas-feiras dos leitores nunca mais seriam as mesmas. Isso porque Elaine Brum tem um olhar singular sobre o Brasil, sobre o mundo e sobre a vida. Trata-se de uma síntese de textos publicados em sua coluna de opinião, onde a autora discorre sobre temáticas contemporâneas com profundidade e seriedade. São narrativas de um repórter que escreve para desacomodar o olhar de quem a lê.
O olho da rua: uma repórter em busca da literatura da vida real, 2006
Dez grandes reportagens: cinco urbanas, quatro na Amazônia e uma sobre a geografia íntima da autora. A aventura se inicia com um nascimento nos confins da da região amazônica feito por parteiras da floresta até uma morte em São Paulo, onde a autora testemunha os últimos 115 dias de uma merendeira de escola. No meio do caminho, cruzamos com um grupo de brasileiros que descobrem que existem dois Brasil desiguais. E, em seguida, as putas que gozam do garimbo do Zé Capeta. O livro é uma verdadeira e espantosa viagem pelo interior do corpo da jornalista, entre outras histórias extraordinárias.
A vida que ninguém vê, 2006
Mais uma vez, os acontecimentos que não viram notícias midiáticas e que não tem nada a ver com celebridades ganham o olhar, a vida e a atenção de Eliane Brum. Ela, uma das maiores cronistas do mundo, procura o extraordinário em cada vida anônima. Nesse sentido, o livro é uma tentativa (muito bem sucedida) de provar que não existem vidas comuns: o mendigo que jamais pediu alguma coisa; o carregador de malas que nunca voou; o macaco que, ao fugir da jaula, vai para um bar beber uma cerveja; o homem que comia vidro… Tudo isso e muito mais em uma obra que emociona pela simplicidade de cada prosa. Contos tão reais e tão bem ilustrados que, ao final, temos a sensação de que estamos saindo de um livro de ficção. Mas não é.
Coluna Prestes – O Avesso da Lenda, 1994
Setenta anos depois, a autora revisita os 24 quilômetros da Coluna Prestes. Não espere por relatos de especialistas, nem políticos, nem rebeldes. A autora, aqui, registou as vozes do caminho: população que vivia nos povoados e cidades por onde a tropa revoltosa passou, no Brasil da República Velha. Seu relato demite os heróis e admite os homens, causando grande polêmica ano seu lançamento na década de 90.
Desafio: defina o estilo literário de Eliane Brum em uma palavra!
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