Um poema de um cão
A Aparição por Billy Collins Eu sou o cão que você colocou para dormir, a agulha do esquecimento, como você gosta de dizer, eu voltei para dizer uma coisa simples: Nunca gostei de você, nem um pouquinho. Quando eu lambia seu rosto, Eu pensava em arrancar seu nariz. Quando eu assistia você se enxugando com uma toalha, Eu pensava em castrar você com uma mordida. Me ofendia seu jeito de andar, sua falta de desenvoltura animal, o jeito que você se sentava na cadeira e comia, guardanapo no colo, faca na mão. Eu teria fugido, mas eu estava muito fraco, um truque que você me ensinou quando eu estava aprendendo a sentar ou ficar de pé e – o maior dos insultos – apertar mãos sem ter mão. Eu admito que a visão da coleira me animava mas era só porque significava que eu estava prestes a cheirar coisas que você jamais havia tocado. Você não quer acreditar nisso, mas eu não tenho motivos para mentir. Eu odiava o carro, os brinquedos de borracha, não gostava dos seus amigos e, pior, seus parentes. O barulho da placa da coleira me enlouquecia. Você sempre me coçava no lugar errado. Tudo que eu sempre quis de você era comida e água fresca em minhas vasilhas de metal. Quando você dormia, eu olhava você respirar enquanto a lua subia no céu. Custava toda a minha força não levantar minha cabeça e uivar. Agora eu estou livre da coleira, da capa de chuva amarela, do suéter com monograma, do absurdo do gramado do seu jardim, e isso é tudo o que você precisa saber sobre este lugar. Exceto o que você já supôs e está feliz que isso não tenha acontecido antes – que todos aqui sabem ler e escrever, cães em poesia, gatos e os outros, em prosa. Leia o original em inglês.]]>
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