Annie Ernaux: livros e filmes para conhecer a obra da vencedora do Prêmio Nobel de Literatura 2022
Considerada pioneira no estilo de autoficção, Annie Ernaux investiga a própria existência em sua dimensão social.
“Meu pai tentou matar minha mãe num domingo de junho, no começo da tarde”. Assim começa o livro A vergonha, da escritora francesa Annie Ernaux, 82 anos, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura deste ano.
Entre a história pessoal e social, a obra de Annie Ernaux é em grande parte autobiográfica. E, para trazer à tona o registro da expressão vivencial, é preciso ter coragem.
A escritora francesa Annie Ernaux, 17ª mulher a receber o Nobel de Literatura, foi premiada não só pela qualidade da sua obra, mas também pela “coragem e acuidade clínica com que descobre as raízes, os distanciamentos e as restrições coletivas da memória pessoal”, explicou o júri do Nobel.
Ao narrar a própria vida, Annie Ernaux evoca não só a expressão de uma interioridade, mas também a complexa relação entre sujeito e o mundo, por intermédio de temas que tocam a experiência, a história de sua sociedade e de seu tempo.
Entre os temas na obra de Ernaux, estão as relações familiares , a violência doméstica, o trauma, o luto, o aborto, entre outros. Questionando, sobretudo, o machismo estrutural. Por esse motivo, Ernaux é vista como um ícone do feminismo na França, abordando suas experiências como mulher numa sociedade patriarcal.
Considerada um dos maiores nomes da literatura contemporânea e pioneira no estilo de autoficção, Annie nasceu em 1940, em Lillebonne, na França. Estudou na universidade de Rouen e foi professora do Centre National d’Enseignement par Correspondance por mais de trinta anos. Começou a publicar em 1974, e desde então escreveu mais de 20 livros, muitos dos quais ganharam vários prêmios.
Além do Nobel, Annie Ernaux recebeu o prêmio Marguerite Yourcenar, Renaudot , Strega, entre outros. Foi também finalista do Prêmio Man Booker Internacional.
Livros adaptados para o cinema
Algumas obras de Annie Annie Ernaux foram adaptadas para o cinema, como o livro “O acontecimento”. O filme homônimo lançado em 2021, com direção de Audrey Diwan, narra o relato de um aborto clandestino realizado pela autora aos 23 anos. O longa foi vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Veja o Trailer!
Outro livro adaptado foi “Paixão Simples”. O filme lançado em 2020, com direção de Danielle Arbid, narra a história de Hélène Auguste, uma acadêmica que se envolve num relacionamento tóxico com um diplomata russo. Quando ele simplesmente desaparece de sua vida, Hélène vai começar a busca pelo entendimento do que realmente aconteceu. Veja o trailer!
Livros publicados no Brasil
A escritora Annie Ernaux é um dos nomes confirmados na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontecerá em novembro de 2022. Selecionei quatro livros para você conhecer a obra da vencedora do Prêmio Nobel de Literatura 2022. Todos foram publicados no Brasil pela Editora Fósforo. Confira a lista e boa leitura!
A vergonha, Annie Ernaux
Com a linguagem cortante e desprovida de sentimentalismos pela qual ficou conhecida, Annie Ernaux inicia mais um capítulo do seu projeto literário, dedicado a investigar a própria existência em sua dimensão social. Ao se debruçar sobre um episódio de violência doméstica do pai contra a mãe quando tinha doze anos, a escritora põe em curso o doloroso processo de rememoração de uma experiência traumática, ao mesmo tempo que identifica nesse incidente a gênese de um sentimento que passaria a acompanhá-la para o resto da vida.
O Acontecimento, Annie Ernaux
Em 1963, Annie Ernaux, então uma estudante de 23 anos, engravida do namorado que acabara de conhecer. Sem poder contar com o apoio dele ou da própria família numa época em que o aborto era ilegal na França, ela vive praticamente sozinha o acontecimento que tenta destrinchar neste livro quarenta anos depois, quando já é uma das principais escritoras de seu país. Com a ajuda de entradas de seu diário e de memórias há muito guardadas, Ernaux reconstrói seu périplo solitário para realizar um aborto clandestino. Ao refletir sobre a onipresença da lei e seu imperativo sobre o corpo feminino, Ernaux nos apresenta mais uma face da mescla indissociável do íntimo e do coletivo tão característica de todo o seu percurso literário. Quando por fim encontra uma “fazedora de anjos” disposta a realizar o serviço, a jovem acaba na ala de emergência de um hospital. Anos se passam sem que ela tenha coragem de revisitar o episódio. Em sua relação radical com a escrita, porém, Ernaux encontra o caminho para falar publicamente de seu aborto e fazer da literatura uma profissão de fé, que comove pela honestidade cortante.
Os anos, Annie Ernaux
Os anos é uma meditação filosófica poderosa e uma saborosa crônica de seu tempo. Pela prosa original de Ernaux, vemos passar seis décadas de acontecimentos, entre eles a Guerra da Argélia, a revolução dos costumes, o nascimento da sociedade de consumo, as principais eleições presidenciais francesas, a virada do milênio, o 11 de Setembro e as inovações tecnológicas, signo sob o qual vivemos até hoje.
O lugar, de Annie Ernaux
Nesta autosociobiografia, uma das mais importantes escritoras vivas da França se debruça sobre a vida do próprio pai para esmiuçar relações familiares e de classe, numa mistura entre história pessoal e sociologia que décadas mais tarde serviria de inspiração declarada a expoentes da autoficção mundial e grandes nomes da literatura francesa como Édouard Louis e Didier Eribon. O resultado é um clássico moderno profundamente humano e original.
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