10 poetas contemporâneos brasileiros para você conhecer
Que tal conhecer alguns poetas brasileiros contemporâneos? Selecionei dez livros de poesia incríveis para você ler ainda neste ano. Confira a lista e boa leitura!
A poesia resiste à falsa ordem, que é, a rigor, barbárie e caos…Resiste ao contínuo ‘harmonioso’ pelo descontínuo gritante; resiste ao descontínuo gritante pelo contínuo harmonioso. Resiste aferrando-se à memória viva do passado; e resiste imaginando uma nova ordem que se recorta no horizonte da utopia.
Alfredo Bosi
A poesia contemporânea brasileira é marcada por um conjunto multifacetado de tendências à medida que revela modos de construção diversos, seja dialogando com outras artes e pensamentos, seja revisitando o passado literário, seja encenando diferentes dicções e processos de subjetivação.
Por essa via, os projetos poéticos e as comunidades de poetas trazem à tona linhas de força e de experimentalismo que constroem uma rede de heterogeneidade, composta por singularidades. Trata-se, assim, de escritos que potencializam a cena poética, movimentam a crítica, o mercado literário, e, o mais importante, conquistam novos leitores, que têm acesso a uma variedade de temas, formas, imagens, reflexões etc.
É exemplar nesse sentido, os trabalhos de Conceição Evaristo e Lubi Prates, cujas poéticas tem como significantes-chave o corpo negro, a memória, a ancestralidade e o feminino, enfatizando, sobretudo, a crítica ao racismo estrutural e a desigualdade social. Trata-se de dicções poéticas que elaboram imagens plurais das (sobre)vivências e subjetividades negras, evocando a relação entre memórias pessoais e coletivas.
Outros nomes da produção poética atual, são Ricardo Aleixo e Carlos Orfeu. O primeiro, tem um projeto poético que dialoga com a performance e o teatro, trazendo à tona o jogo visual da linguagem. Entre as temáticas de sua poética, estão a reflexão sobre o eu e a condição humana, o racismo, a ancestralidade e a própria poesia. O segundo, Orfeu, traz à tona um diálogo entre poesia e filosofia, evidenciando a relação entre interioridade e exterioridade, entre o corpo-próprio e a carne do mundo.
Com esses exemplos, já dá para perceber a pluralidade da cena poética contemporânea. Então para aqueles que estão buscando uma dica literária, selecionei dez livros de poesia incríveis para você conhecer ainda neste ano. Confira a lista e boa leitura!
Poemas da Recordação e outros movimentos, Conceição Evaristo
Fazendo uso de variados recursos: uma rica visão poética emotiva e a tematização sentimental, social, familiar e religiosa; com coragem, experiência, estilo bem definido e uso de intertextualidades, são enunciadas pela autora a pobreza, a fome, a dor e “a enganosa-esperança de laçar o tempo”; assim como há espaço para a paixão, o amor e o desejo. Nada, porém, é superficial, gratuito ou excessivo em “Poemas da recordação e outros movimentos”, que se sustenta em crítica social e no profundo de cada experiência, a partir da produção de um conjunto de poesias fortes e criativas, de belo senso rítmico, cuja leitura desperta emoções, graças à empatia que se estabelece entre os que leem os poemas e a expressividade emotiva e literária de Conceição Evaristo, quando faz despontar os “mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra”.
Um corpo negro, Lubi Prates
“Um corpo negro” conta, poeticamente, o processo de reconhecimento como negra, da autora, a partir do que se manifesta fisicamente no corpo: pele, cabelo, boca e nariz, até as estórias que ouve sobre seus ancestrais e as próprias experiências desta identidade, desconstruindo a representação do negro, ainda atual, como alguém inferior. a história de Lubi Prates é a história de muitos.
Pesado demais para a ventania: antologia poética , Ricardo Aleixo
A obra de Ricardo Aleixo, reunida aqui em seus momentos mais representativos, traz temas como o amor, os relacionamentos, a literatura, a cidade, o racismo, os antepassados e a própria poesia. Divididos em seis grandes seções, os poemas aqui compilados são a melhor porta de entrada para a obra de uma das grandes vozes líricas do Brasil.
Mácula, Mariana Basílio
Premiado com o Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo (ProAC 23/2019), o novo trabalho de Mariana Basílio, Mácula, é composto por uma coletânea de 50 poemas sobre a sociedade brasileira. Em interlocução crítica com os dizeres e expectativas da Semana de Arte Moderna de 1922, o livro é aberto por um breve ensaio sobre o fazer da arte poética no contexto da sociedade brasileira, entre o século passado e os dias atuais. Na seção principal do livro, As Confissões Negativas, Basílio constrói o repertório dos poemas com uma árida sucessão cinematográfica do Brasil, em tomadas políticas, antropológicas, filosóficas e culturais, representando também, neste início do século XXI, a inesperada e atual questão da pandemia mundial do novo coronavírus.
O livro das semelhanças, por Ana Martins Marques
Esta nova reunião dos poemas de Ana Martins Marques parece ser a culminação de um dos caminhos mais relevantes da lírica brasileira dos últimos anos. Estão aqui, com uma força que já podia ser antecipada em seus livros anteriores, peças que versam, sobretudo, a respeito da tentativa – sempre temerária, mas também desafiadora – de recuperar o mundo e as coisas por meio da palavra. Dividido em quatro seções (“Livro”, “Cartografias”, “Visitas ao lugar-comum” e “O livro das semelhanças”), esta obra desperta o leitor para o prazer sempre iluminador e sensível de uma das vozes mais originais da poesia brasileira. Do amor à percepção de que há um espaço – geográfico, quase – para o lugar-comum, do entendimento da precariedade do nosso tempo no mundo à graça (mineira, matreira) proporcionada pela memória: eis uma poeta que nos fala diretamente. Ou, como diz em um de seus versos: “Ainda que não te fossem dedicadas/ todas as palavras nos livros/ pareciam escritas para você”.
Levante, Henrique Marques Samyn
“Samyn mergulha na lama primordial onde nossa ancestralidade repousa e transforma em ponto versificado o que nos trouxe até aqui: a coragem, a capacidade de recriar, de gerar tecnologias de produção de infinitos”, assim define Cidinha da Silva no prefácio da obra. Produto de uma pesquisa rigorosa, desenvolvida ao longo de cinco anos por Henrique Marques Samyn, professor de literatura da UERJ e militante negro, Levante reúne 75 poemas que abordam a trajetória do povo negro no Brasil, desde o desterro imposto pelo tráfico negreiro até a resistência contra o sistema escravista, chegando às heranças contemporâneas e à contínua luta por libertação.
1989, Lucas Matos
Emblemático desde o nome, 1989 reafirma a vocação de Lucas Matos para a sátira, misturando guerra e destruição a memórias e visões do futuro. Repleto de referências kafkaniana, neste volume o leitor se depara com ”a indecisão temporal aterradora diante da monstruosidade das relações sociais burocráticas e policiais”, nas palavras de Rafael Zacca. Tudo isso com humor e veia poética afiados.
Bigornas, Yasmin Nigri
Livro de estreia da carioca Yasmin Nigri, Bigornas é um trabalho surpreendentemente sólido. Mais que uma simples coletânea de poemas, o livro é construído sobre a ideia de formação poética e tangencia questões como solidão, violência e fracasso. Dividido em quatro partes, reúne desde alguns de seus primeiros poemas, mais distendidos e bem-humorados (Rua de Ontem), passando por uma série dedicada a artistas que influenciam seu olhar (Recibos) e por um romance entre mulheres (Mulher Malevich), até os da última parte (Bigornas), cuja concisão e densidade lhes atribui a eficácia dos golpes bem-assestados.
Nervura, Carlos Orfeu
Os poemas do livro “Nervura”, de Carlos Orfeu, estabelecem entre si uma comunicação muito elaborada que resulta num conjunto derradeiramente inabordável, ora expandindo, ora retraindo os sentidos e os destinos que a leitura pode legar. Dividido em duas partes, da carne e do osso, os poemas exploram incessantemente o corpo, a pele, os gestos, as relações, nos ensinando a “chamar de casa/ todas as coisas/ indizíveis”. Dentro de cada seção, os poemas se organizam em ciclos orgânicos, vivos, mesclados ao inorgânico ósseo das palavras agudas de Carlos Orfeu. O corte do verso é sempre preciso, muito exato e justo: faca afiada contra a carne da leitura.
Um buraco com meu nome, Jarid Arraes
Nesta antologia, a autora de “ Redemoinho em dia quente” vai em busca de “uma toca/ de paredes/ grossas/um abrigo/ que cesse/ a fome”, um refúgio em meio a campo aberto. Em um denso equilíbrio entre introspecção e crítica social, estes poemas se dividem em cinco ramos ― selvageria, fera, corpo aberto, caverna e poemas inéditos ― e recuperam a imagem da mulher e do corpo feminino negro, que se encontra desprotegido da loucura e das inúmeras opressões cotidianas.
E aí, gostou das dicas de livros? Vamos ler poesia! Qual livro você incluiria nessa lista?
- Rita Lee: uma vida dedicada à música e à literatura - 10.05.2023
- 7 lançamentos da editora Intrínseca para você conhecer - 17.04.2023
- 5 reflexões de Carolina Maria de Jesus - 14.03.2023
O poeta Carlos Orfeu é uma jóia, uma excelente escrita.