9 livros para quem quer conhecer a moda
Professora da Faculdade de Moda do Senai Cetiqt escreveu artigo e selecionou algumas das principais obras sobre o assunto. Confira!
O conceito de moda surgiu por volta do século XV na Europa. O fenômeno não pode ser desvinculado de uma série de mudanças profundas que as sociedades ocidentais experimentavam naquele momento. É fato que a moda primeiro se estabeleceu no seio das aristocracias. Afinal era o segmento da sociedade com condições que aderir às novidades que chegavam ao continente europeu, especialmente aquelas vindas da Ásia.
A moda, porém, se consolidou graças aos segmentos médios da população europeia, os mesmos que, ao fim, contribuíram para dar forma à industrialização na Inglaterra do século XVIII. A forte demanda por tecidos indianos desequilibrou a balança comercial inglesa em relação à daquele país asiático. A reação do país europeu foi iniciar um processo de aprendizagem para desenvolver localmente o tecido semelhante ao indiano e produzi-lo em grande quantidade.
No século XX, a moda se tornou quase sinônimo da indústria do vestuário, e se, para o senso comum, trata-se de futilidade, um olhar mais atento se dará conta de que estudar a moda nos conduz à compreensão dos indivíduos e seu diálogo com as sociedades modernas. Está na hora de conhecermos melhor a moda e o que ela nos mostra sobre nossa sociedade e sobre nós mesmos.
A moda no Brasil
O setor da moda, de acordo com dados da ABIT – Associação Brasileira das Indústrias Têxteis e Confecções – em 2017 contava com cerca de 1,5 milhão de brasileiros empregados diretamente, e cerca de 8 milhões indiretamente, dos quais, 75% são mão-de-obra feminina. A área se desdobra em muitos setores, e há uma farta bibliografia disponível em português.
Alguns clássicos ficarão de fora desta lista, mas fica aqui a ressalva sobre a importância de conhecê-los mais profundamente numa segunda etapa. Simmel, Flugel, Polhemus, Veblen, Bourdieu são alguns dos nomes que não podem faltar na biblioteca de quem estuda ou deseja saber mais sobre moda. Afinal, é fundamental que aqueles que se interessam pelo assunto conheçam os aspectos psicológicos e sociais que envolvem as nossas roupas.
As recomendações que seguem foram pensadas para quem deseja tomar um primeiro contato com o tema. Digamos que seriam os primeiros 10 livros dessa vasta biblioteca.
Solange Mezabarba é professora doutora em Antropologia da Faculdade de Moda do Senai Cetiqt
Moda, luxo e economia, de José Carlos Durand
Um bom livro para quem quer começar a compreender o tema da moda. José Carlos Durand é um dos mais importantes pesquisadores brasileiros no campo da sociologia. Ele começou a pesquisar a formação industrial brasileira e, como não poderia deixar de ser, o setor têxtil se mostrou um dos mais importantes. É um livro pequeno com capítulos curtos, uma leitura muito agradável, e que oferece aos interessados pela moda um rápido panorama. Durand inicia sua abordagem pela alta costura, passa pela indústrialização e nos mostra um dos momentos mais importantes da moda brasileira e da nossa industria têxtil.
Moda e publicidade no Brasil dos anos 1960, de Maria Cláudia Bonadio
Uma vez “fisgados” pelo delicioso livro de Durand, vale a pena olhar com uma lupa para um dos momentos mais interessantes da moda no Brasil. A entrada da Rhodia no mercado brasileiro é um momento crucial para entender mudanças do comportamento de consumo dos brasileiros em relação à moda. Mas Bonadio também aborda a profissionalização deste mercado e os movimentos ligados à moda brasileira. Entre eles, como não poderia deixar de ser, o Tropicalismo. Bonadio conduz com leveza e bom humor sua narrativa deste período da história da moda no Brasil que é publicado numa bela edição. Para quem viveu este momento, uma agradável viagem no tempo.
O espírito das roupas – A moda no século XIX, de Gilda de Mello e Souza
O texto publicado pela primeira vez em 1954 é uma cuidadosa análise do fenômeno da moda por sua estética, psicologia e relação com a estrutura social em seus diversos níveis. Assim, Mello e Souza, pioneira em seu tempo, faz reflexões sobre a tensão entre a moda e a arte, moda e gênero, moda e luta de classes. A autora, embora trate do espírito das roupas pensando nas fortes mudanças ocorridas nas sociedades ocidentais durante o século XIX, está falando a partir do Brasil, o que coloca sua reflexão num plano dialógico com a sociedade brasileira.
A roupa e a moda – Uma história concisa, de James Laver
A obra do britânico James Laver já se tornou um clássico. De forma breve e objetiva, Laver vai na pré-história da humanidade buscando resquícios das roupas. Passa pela Grécia e Roma Antiga e chega à Europa Renascentista. Termina seu giro na “Era do Individualismo”. Aterrissando em Paris, o autor analisa o impacto dos acontecimentos históricos das décadas de 1940 a 1960 nas roupas e na moda, sem deixar de mencionar grandes criadores que surgiram em outras terras europeias. A edição da Companhia das Letras é ricamente ilustrada em papel couchê.
O império do efêmero, de Gilles Lipovetsky
Este é um livro obrigatório para quem estuda moda no Brasil. Boa parte da produção acadêmica brasileira sobre o tema faz referência à obra deste importante filósofo francês, seja como um reforço ao argumento de autoridade, seja como crítica. É, portanto, um marco na produção intelectual sobre moda. Escrito com densidade, o autor de O Império do Efêmero analisa a moda nas sociedades ocidentais desde o momento aristocrático até a contemporaneidade, com a ressalva de que a moda, de acordo com Lipovetsky, só poderia acontecer numa sociedade que cultua novidades. Ele divide a moda em três momentos cruciais, sendo o período denominado A moda dos cem anos (de meados do século XIX a meados do século XX) o momento em que o criador de moda está revestido do poder para conduzir imperativamente o modo de vestir nas sociedades ocidentais.
Sistema da moda, de Roland Barthes
Orientando do antropólogo Claude Lévi-Strauss, Barthes propõe uma análise de cunho estruturalista da moda. Ainda que não tenha logrado seu objetivo inicial, Sistema da Moda nos entrega uma análise semântica da moda, elaborada a partir do estudo de artigos da imprensa. Barthes nos convida a ler as revistas de moda de outra maneira, desvendando o modo como as sociedades constroem significados para suas roupas. Fundamental para aqueles que desejam estudar a moda sob o ponto de vista dos seus significados e da comunicação.
A moda e seu papel social, de Diana Crane
Fruto de mais de 10 anos de pesquisas, o livro da socióloga norte-americana apresenta, em suas quase 500 páginas, reflexões fundamentais para quem estuda moda. Numa linguagem agradável, ela discorre com objetividade sobre suas preocupações com questões de gênero e de classe social. A autora aborda a classe operária norte-americana do século XIX, a roupa feminina como resistência não-verbal atuando em importantes momentos da história feminina nos séculos XIX e XX, as roupas na contrução das identidades masculinas, entre outras reflexões ativas nos encontros e congressos sobre moda. Crane dialoga com os principais autores que usaram a moda como objeto de estudo para pensar as sociedades. Entre eles, todos aqueles que relacionaram moda à distinção social, passando por nomes como Gabriel de Tarde, Georg Simmel, Thortein Veblen e Pierre Bourdieu, também fundamentais para aqueles que desejam ingressar no campo da moda.
Moda: Uma filosofia, de Lars Svendsen
O filósofo norueguês Lars Svendsen escreveu o mais novo clássico sobre o tema nas ciências sociais. Depois de conhecermos as obras anteriormente recomendadas, Svendsen chega para atualizar os debates sobre moda no século XXI, a começar pelo próprio conceito de moda. Seu tom crítico vai ganhando substância na medida em que ele perpassa as ideias relacionadas com este campo, desde a inovação e linguagem, até a relação com o corpo e com o consumo.
Sociologia das tendências, de Guillaume Erner
Para o senso comum, moda e tendência se tornaram sinônimos. O fato é que, cada vez mais, a indústria deseja antecipar comportamentos e consumo de moda. O sociólogo francês Guillaume Erner problematiza as tendências e faz algumas provocações interessantes para refletir sobre elas. No momento em que a mídia divulga uma tendência ela se torna uma “profecia auto-realizadora” diz o autor. Este livro instigante é um convite à reflexão.
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