Veja livros que exploram a temática LGBT
Obras foram indicadas pelo Coletivo Literatura LGBT Reinaldo Arenas da USP. Com a Estante Virtual, grupo apoia roda de conversa no Mix Literário
Um dos principais pilares da Estante Virtual é a diversidade literária. Buscamos sempre reunir autores de diferentes gêneros e nacionalidades, que discutem temas fundamentais para a sociedade. Por isso, convidamos o Coletivo Literatura Reinaldo Arenas da Universidade de São Paulo (USP) para indicar seis obras que exploram a temática LGBT.
Criado em 2016 por alunos do curso de Letras, o grupo costuma promover eventos que ajudem a divulgar os livros LGBT. Ao lado da Estante Virtual, o coletivo apoiará uma roda de conversa durante o Mix Literário, no dia 17, sobre literatura queer e a tradição literária ocidental. O debate vai focar em autores que fazem parte do cânone e mostrar como eles lidam com os aspectos e a representação das pessoas nas histórias.
Sobre o Mix Literário
Organizado entre os dias 17 e 24 de novembro, o Mix Literário faz parte da 26ª edição do Festival Mix Brasil, em São Paulo. Além da mesa sobre a literatura queer, o evento reúne discussões sobre representatividade trans no meio literário, slams de poesia e sarau. No dia 20, a Estante Virtual apoia ainda um workshop de “narrativas sobre encontros em tempos de redes sociais”.
O encontro será mediado pelo escritor Alexandre Rabelo, idealizador do Mix Literário e autor do livro Nicotina zero. Cada participante será convidado a criar uma pequena narrativa escrita para mostrar a fluidez das relações no mundo digital. Os interessados podem se inscrever uma hora antes do evento.
Que tal agora conhecer obras com narrativas LGBT? A lista de livros do Coletivo de Literatura LGBT Reinaldo Arenas reúne títulos como O quarto de Giovanni, de James Baldwin, recentemente relançado pela Companhia das Letras, e o clássico O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Confira a lista completa e boa leitura!
Antes que anoiteça, de Reinaldo Arenas
Ler Reinaldo Arenas é, por si só, entrar no universo do autor. Suas tramas nos colocam em mundos ficcionais até então desconhecidos. Entretanto, sentimos empatia por seus narradores. A partir daí, o leitor se pergunta: quem é este autor cuja escrita se apresenta com tamanha potência e por que sua escrita se dá dessa forma? A resposta está em sua autobiografia, Antes que anoiteça.
Nela, o autor nos conta sua vida em detalhes, desde a infância em um povoado no interior de Cuba até seu exílio nos Estados Unidos. Pelo caminho, nos deparamos com suas experiências sexuais – algumas podem parecer, por vezes, aventuras -, com a descoberta da homossexualidade e, também, a descoberta de que ela não poderia ser vivida plenamente na realidade cubana pós-revolucionária.
Além da vida de Arenas, o leitor também descobre mais sobre a história da ilha e dos LGBTs que viveram o pós 1959 lá. Em meio a risadas e choros, a leitura flui de maneira leve e nos sentimos, mais uma vez, próximos do narrador. Conhecer a história do outro é uma maneira de conhecer melhor a si mesmo, por isso a leitura de Reinaldo Arenas deve ser feita por todos os LGBTs que desejam entender melhor a militância deste grupo em um regime ditatorial de esquerda.
O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
Talvez um dos mais famosos autores da literatura mundial, Oscar Wilde revela um olhar crítico sobre a sociedade inglesa do final do século XIX. Em O retrato de Dorian Gray, a celebração da beleza, da juventude e da superficialidade esconde os horrores por trás das aparências. No auge da juventude, Dorian posa para um retrato e se entristece ao perceber que sua imagem pintada será sempre bela, enquanto ele padecerá pelo tempo e pelos sofrimentos da vida, até que um pedido é feito e uma troca entre juventude e pecado iniciam a jornada e os mistérios acerca de Dorian.
Um dos pontos mais interessantes é ver como a perspectiva de Wilde mostra a relação entre Dorian, Lord Henry e Basil e os desejos que ali são revelados para os olhos mais atentos. A coragem do autor de publicar Dorian Gray numa Inglaterra ainda vitoriana e que viria a persegui-lo é sem dúvida outro atrativo para mostrar que sempre existimos e resistimos.
O quarto de Giovanni, de James Baldwin
O celebrado James Baldwin nos leva à França para conhecer uma realidade boêmia dos anos 1950, onde um jovem americano conhece um jovem italiano que trabalha num bar. Entre nacionalidades e territórios estrangeiros, floresce uma relação passional entre os protagonistas, nos levando até o quarto de Giovanni (que dá o título original Giovanni’s room).
Um romance que conta a clássica descoberta da sexualidade sob um ponto de vista bissexual e revela como as verdades absolutas, impostas pela sociedade, acabam por nos limitar. O livro foi publicado num momento crítico da sociedade americana, em que as perseguições contra os possíveis comunistas censurava artistas e os levava à margem. Baldwin, negro e bissexual, soube transpor para Giovanni a falácia daquilo que era considerado certo e digno para um homem americano.
O poço da solidão, de Radclyffe Hall
Corajosamente publicado na Inglaterra dos anos 1920, O poço da solidão tornou-se um clássico da literatura lésbica. Trata-se de uma história de amor que trata o sentimento entre as duas protagonistas como algo natural, que surge como algo divinamente criado, oposto a uma aberração. A história se desenvolve perante o isolamento social das personagens, única possibilidade de realização para aquele tempo e a súplica para que possam ser aceitas.
Outro motivo de perseguições era por sua protagonista dizer-se “invertida”, como alguém que se expressa pelo gênero “oposto” ao seu. A censura e a perseguição à obra de Hall não prevaleceram, mas sim a tornaram numa leitura obrigatória para entender a importância de se lutar por nossas histórias.
O beijo da mulher aranha, de Manuel Puig
Este livro talvez seja famoso também por seu filme, de 1985, com Sônia Braga e diversos atores brasileiros no elenco. Mas a maestria do argentino Manuel Puig se revela por colocar numa mesma cela, em meio à ditadura, Molina e Valentim, duas pessoas que não poderiam ser mais diferentes e, ainda assim, encontravam-se ali, presas e perseguidas por um governo tirano.
O romance é essencialmente composto por diálogos entre os dois, com valiosas notas de rodapé que transformam a leitura num trânsito entre gêneros textuais, ao passo em que as personagens discutem o que é ser homem, ser mulher, ser gay… Além de um retrato da ditadura argentina, O beijo da mulher aranha nos oferece uma reflexão sobre as informações que consumimos em forma de cinema ou de ciência e como elas também determinam aquilo que pensamos.
Maurice, de E. M. Forster
E. M. Forster é um autor inglês conhecido e celebrado por romances como Passagem para Índia ou Um quarto com vista, ambos publicados ainda em vida. Já Maurice é uma publicação póstuma, uma vez que o autor escolheu não publicá-lo por medo de perseguição e apagamento de sua obra. Após quase 40 anos de sua escrita, o romance chegou ao público e é “ignorado” pela crítica que o trata como menor perto das obras-primas citadas.
A verdade é que o contexto da publicação do livro nos revela o mesmo preconceito da história de Maurice, que se vê em uma sociedade que tenta moldá-lo de diversas formas. Sua jornada é fascinante quando o vemos desmontar cada uma das grandes características de um cavalheiro inglês. Tudo o que Forster queria era um final feliz para seus personagens e sua obra para que algum otimismo pudesse florescer em meio a uma sociedade tão conservadora.
Qual livro você incluiria na lista? Comente e participe! 🙂
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Por Coletivo de Literatura LGBT Reinaldo Arenas
Porque não tem nenhuma indicação de autores brasileiros ?