As escritoras pioneiras do feminismo
Autoras que escreviam sobre o tema em um período onde o empoderamento feminino era quase inexistente.
Mary Wollstonecraft foi uma filósofa, ativista e escritora que viveu em meio ao conturbado período político e social que antecedia um dos maiores acontecimentos históricos: a Revolução Francesa. Além dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, Wollstonecraft foi pioneira em mencionar um termo que foi eleito pelo dicionário norte-americano Merriam-Webster como a palavra do ano: o feminismo.
Nascida em Londres em 27 de abril de 1759, Mary viveu uma vida inconvencional. Durante sua breve carreira, escreveu romances, livros sobre viagens e até mesmo narrativas infantis, mas foi com a obra Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher, publicada em 1792, que ficou marcada na história da literatura e do movimento Feminista. O livro é um dos primeiros e mais importantes documentos que abordam os direitos básicos das mulheres, além de levantar questões impensadas para a época, como qual era o lugar da mulher na sociedade. Adepta a linha de ideais racionais do Iluminismo, Mary Wollstonecraft acreditava que o pensamento da inferioridade da mulher em relação ao homem tinha origem na pouca escolaridade que era oferecida as meninas naquele tempo. A autora lutava por uma sociedade baseada na razão, na qual as mulheres deviam ser tratadas como seres racionais. Além de ter sido pioneira na escrita de livros que abordam o feminismo, Mary era mãe da também escritora Mary Shelley, a autora do clássico de ficção científica Frankenstein.
Quem foram as primeiras autoras feministas?
Se os primórdios do movimento Feminista fossem divididos em uma linha do tempo, logo depois da popularidade do livro Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher, de Mary Wollstonecraft, teria a influência das obras de Gertrude Stein. A autora, nascida em 3 de fevereiro de 1874 nos Estados Unidos, é mais conhecida por ter sido o braço direito de autores consagrados como T. S. Eliot, Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald, mas o seu legado foi muito além do que a colaboração com outros homens. Lésbica e adepta de ideais vanguardistas em relação à arte e literatura, escreveu o livro A autobiografia de Alice B. Toklas, uma obra que ditou o pensamento literário que dominou a geração da década de 1920, 1930 e 1940. No entanto, trata-se de uma autobiografia da companheira de mais de 25 anos de Gertrude, Alice Toklas. A sua importância é devido a capacidade da autora de falar sobre a banalidade da vida do Homem, estabelecendo uma analogia entre o ritmo da vida em sociedade com uma narrativa incessante. Além disso, Stein foi a criadora da expressão Lost Generation (Geração Perdida), que classificava o grupo de escritores americanos que viviam na Europa nos anos 1920.
As autoras Gertrude Stein e Mary Wollstonecraft fizeram parte da chamada Primeira onda do feminismo, que começou no período que antecedeu a chegada século XX e que terminou em meados da década de 1930. Ainda presentes nesta primeira fase, estão as autoras clássicas ao que se refere o tema, como Virginia Woolf e Simone de Beauvoir. A obra de Woolf Um teto todo seu, de 1929, aborda o preconceito e as dificuldades que as mulheres encontravam naquele tempo se quisessem dedicar suas vidas à literatura. Ao ser questionada em uma palestra numa universidade inglesa sobre o que uma mulher precisa para ser uma escritora, Virginia Woolf respondeu que “uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu, se quiser escrever ficção.” Esta frase é a premissa na qual este livro se desenvolve.
Conhecida por seu trabalho nos campos da Filosofia e Sociologia, Simone de Beauvoir é uma das principais escritoras que discutiram em suas obras os direitos da mulher e o seu lugar na sociedade. Nascida em Paris no dia 9 de janeiro de 1908, de Beauvoir era uma teórica social francesa que teve bastante influência da filosofia Existencialista e incorporou os significados da teoria no feminismo e na Teoria Feminista. A escritora publicou obras que são estudadas não só em meios acadêmicos do mundo inteiro, mas também em rodas de debates sobre o assunto. Entre elas, estão O segundo sexo e A mulher desiludida. Simone de Beauvoir viveu na prática seus ideais e dedicou sua vida aos estudos acadêmicos, ao ativismo político, a busca pela igualdade, ao ensino e principalmente ao questionamento de tabus e do status quo na vida das mulheres.
A inserção do feminismo em diversos campos literários
Na chamada Segunda onda do feminismo, a famosa autora de obras de Ficção Científica e Fantasia, Ursula K. Le Guin, sempre colocou o feminismo no centro de suas histórias. Sua mãe, Theodora Kroeber, apenas tornou-se escritora após os 60 anos, por conta da pressão da sociedade em relação as supostas obrigações e prioridades das mulheres, como formar família, cuidar do lar, casar, etc. Ao encontrar apenas aos 60 anos a liberdade tanto procurada em sua vida, a mãe de Ursula começou a escrever e influenciar a sua filha a ir contra estes valores enraizados sobre quem uma mulher deve ser e qual profissão ela deverá seguir. Ursula K. Le Guin é autora de livros aclamados como Os despossuídos e A mão esquerda da solidão.
Outra autora que inovou ao tratar do feminismo em histórias com enredo distópico, foi Margaret Atwood. Nascida em 18 de novembro de 1939, seu livro O conto de Aia, no qual Atwood narra o cotidiano de um futuro apocalíptico, onde a sociedade é dominada por um movimento totalitário e fundamentalista cristão, marcou a história dos livros que discutem o assunto em narrativas que fogem do comum romance, elegendo protagonistas fortes e com apelo heroico – uma característica que antes era típica de personagens masculinos.
A terceira e última onda do feminismo começou em 1990 e ocorre até hoje. Nesta fase, os conceitos anteriormente aceitos do movimento são questionados em vista da realidade de milhares de mulheres. Um dos paradigmas que foi quebrado é a de que toda mulher é igual e luta em favor dos mesmos direitos – um pensamento que foi esquecido após a percepção de que mulheres de classes, raças e países distintos tem oportunidades distintas, assim como necessidades e desejos.
Confira as abaixo obras das escritoras feministas!
Um teto todo seu, de Virginia Woolf
Baseado em palestras proferidas por Virginia Woolf nas universidades inglesas, o ensaio Um teto todo seu é uma reflexão acerca das condições sociais da mulher e na produção literária feita por mulheres. Woolf aponta em que medida a posição que a mulher ocupa na sociedade acarreta dificuldades para a sua liberdade de expressão e para a escolha da carreira como escritora.
Reivindicação dos direitos da mulher, de Mary Wollstonecraft
Neste que é um dos documentos fundadores do feminismo, a obra-prima de Mary Wollstonecraft denuncia a exclusão das mulheres do acesso a direitos básicos no século XVIII, especialmente o acesso à educação formal. Escrito em um período histórico marcado pelas transformações que o capitalismo industrial traria para o mundo, o texto discute a condição da mulher na sociedade, apontando a importância de mudanças imediatas em vista de um futuro com igualdade.
A mulher desiludida, de Simone de Beauvoir
Esta obra contém contos curtos que procuram expressar a fragilidade da mulher moderna – do envelhecimento até a solidão, culminando na indiferença do ser amado. As histórias deste livro buscam mostrar uma visão compassiva e lúcida sobre as desigualdades de gênero.
Os despossuídos, de Ursula K. Le Guin
Ganhador do prêmio Nebula de melhor romance em 1974, Os despossuídos lida com temas fundamentais de seu tempo, como o capitalismo, o comunismo russo e o anarquismo, além dos conceitos indefinidos do individual e do coletivo.
A autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein
Enquanto a escritora norte-americana Gertrude Stein escrevia seus livros, buscando uma forma de revolucionar a literatura do século XX, sua companheira Alice B. Toklas cozinhava, bordava, cuidava das plantas, datilografava seus manuscritos e ajudava a entreter os convidados da casa que dividiam, em Paris. Os convidados, por sua vez, não eram nada simplórios – Gertrude era amiga íntima dos maiores artistas do seu tempo. Entre as pessoas que entravam e saíam de sua casa com bastante frequência, estavam ninguém menos do que Pablo Picasso, Henri Matisse, George Braque, Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway.
A vida antes do homem, de Margaret Atwood
Casados há uma década, o casal de protagonistas Nate e Elizabeth vivem aprisionados ao instante e resumem-se a atender às necessidades do momento e sobreviver às frustrações da rotina de um relacionamento. Atwood desmascara todas as ilusões acerca do amor: o tédio, a carne, a ilusão do prazer duradouro, a paixão que só dura até a primeira briga. Pouco a pouco, Margaret Atwood revela ao leitor o lado sombrio da relação dos personagens, que apesar de ser aparentemente liberal, é repleta de conservadorismo e certezas superficiais.