12 mulheres para ler em 2018
Autoras que vão rechear seu ano com boas histórias.
Em 2017, iniciamos uma tradição aqui no Estante Blog de indicar uma autora para ser lida a cada mês do ano. O post, que destacava autoras como Chimamanda Ngozi Adichie, Fernanda Torres e Eliane Brum, fez sucesso entre os leitores e acabamos recebendo outras sugestões de mulheres incríveis para completar nossas leituras também.
O motivo da criação da lista, obviamente fora a falta de representatividade do gênero em prêmios literários, listas e na divulgação em livrarias. Afinal quanto menos somos lidas, menos seremos premiadas ou mesmo indicadas. Pois bem, vamos manter essa tradição viva e indicar 12 escritoras que merecem nossa atenção neste novo ano. Seja na poesia, em romances ou não ficção. Confira:
Hilda Hilst
Uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX, ganhou uma grande novidade para esse ano. Hilda Hilst será a homenageada da Flip de 2018, novamente sobre a curadoria de Joselia Aguiar. Hilda escreveu poesia, ficção, teatro e crônica, tendo construído uma obra singular em língua portuguesa, em torno de temas como o amor, o sexo, a morte, Deus, a finitude das coisas e a transcendência da alma.
A Obscena Senhora D é uma procura lúcida e hipnótica das razões da existência, onde tudo pode acontecer. Como a própria Senhora D afirma: ‘A vida foi uma aventura obscena, de tão lúcida.’ A obra é plena dos temas mais caros à autora – o desamparo, a condição humana, o apodrecimento da carne, à alma conturbada.
Viver é afundar-se em cada caminhada.” (p. 52)
Conceição Evaristo
A escritora mineira Conceição Evaristo é uma das vozes mais relevantes e necessárias da literatura brasileira contemporânea. Ela compõe sua obra com base no que chama de “escrevivência”, ou a escrita que nasce do cotidiano e das experiências vividas. Em seus romances, contos e poemas, a autora explora sobretudo o universo – a realidade, a complexidade, a humanidade – da mulher negra.
Em seu livro, Olhos d’água, vencedor do Jabuti de 2015, Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.
Elena Ferrante
Se você ainda não começou a ler a série napolitana, precisa fazer isso em 2018. A misteriosa autora italiana, Elena Ferrante, conquistou fãs no mundo inteiro com a história de Lina e Lenu no pequeno bairro de Nápoles, na década de 1950. Elena, a menina mais inteligente da turma, tem sua vida transformada quando a família do sapateiro Cerullo chega ao bairro e Raffaella, uma criança magra, mal comportada e selvagem, se torna o centro das atenções. Essa menina, tão diferente de Elena, exerce uma atração irresistível sobre ela. É possível reconhecer-se e mergulhar em todas as relações humanas retratadas entre as amigas, entre pais e filhos e entre os casais.
Maria Valéria Rezende
Uma das escritoras mais talentosas da literatura brasileira contemporânea tem 75 anos, é freira missionária e vive fora do eixo cultural Rio-São Paulo. Maria Valeria descobriu-se escritora aos 60 anos e se faz conhecer através de uma escrita inventiva, solta e profunda. Já publicou romances, contos, crônicas e literatura infantojuvenil.
No livro Outros Cantos – que recebeu o prêmio Casa das Américas de 2016, foi finalista na categoria romance do prêmio jabuti e vencedor do prêmio São Paulo de Literatura – Maria, uma mulher que dedicou a vida à educação de base, entrelaça passado e presente para recompor uma longa jornada que nem mesmo a distância do tempo pode romper.
Rebecca Solnit
Conhecida pela criação do termo mansplaining – quando um homem dedica seu tempo para explicar algo óbvio a uma mulher, de forma didática – Rebecca é historiadora, ativista do feminismo, colaboradora do jornal The Guardian e colunista da revista Harper’s. No Brasil, tem publicado os ensaios “Os homens explicam tudo para mim”, que abre o livro de mesmo nome da autora, pela editora Cultrix e “A Mãe de Todas as Perguntas” publicado pela Companhia das Letras.
Em ambos os livros, Solnit trata do silêncio e do silenciamento, das diversas formas de violência que acometem as mulheres por conta do machismo e das conquistas do feminismo contemporâneo.
Rupi Kaur
O primeiro livro da poeta canadense nascida na Índia, Rupi Kaur, Outros jeitos de usar a boca foi publicado de maneira independente em 2014. O livro chegou ao Brasil em fevereiro pela editora Planeta, depois de vender mais de um milhão de cópias no exterior. A artista da palavra falada é popularmente conhecida como Instapoet pela forte presença de seus poemas no Instagram. Neste ano, lançou o segundo título: The sun and her flowers.
Scholastique Mukasonga
Scholastique – nascida em 1956 em Ruanda e hoje escritora francófona respeitada mundo afora – passou pela provação de ver 27 membros de sua família mortos no genocídio naquele país em 1994. Ela é uma sobrevivente dos conflitos étnicos que marcaram a nação africana.
Seu livro, A mulher de pés descalços, foi escrito em memória de Stefania, a mãe da escritora, assassinada pelos hutus, durante a guerra civil de Ruanda. Às lembranças de um paraíso perdido, onde Stefania era uma senhora alegre e casamenteira, que dava conselhos às moças em torno do amor e da vida matrimonial, se mesclam imagens terríveis, como o medo constante e busca de esconderijos seguros para salvar seus filhos do extermínio.
Djaimilia Pereira de Almeida
Djaimilia é uma das novas vozes da literatura lusófona. Cursou estudos portugueses na Universidade Nova Lisboa e doutourou-se em teoria da literatura na Universidade de Lisboa. Seu primeiro livro, Esse cabelo (2017), arrebatou a cena literária de Portugal. Um romance surpreendente que mistura memória, imaginação e crítica social com humor e leveza na medida certa. Mas que fala também de racismo, feminismo e identidade.
Falar de cabelos é uma bobagem? Não, até porque, segundo a narradora deste livro, “escrever parece-se com pentear uma cabeleira em descanso”; e visitar salões de beleza é uma boa forma de conhecer hábitos, de aprender a distinguir modos e feições e até de detectar preconceitos.
Naomi klein
Não Basta Dizer Não (Bertrand Brasil) foi a maneira como a jornalista e ativista canadense, Naomi Klein, formulou o colapso ambiental e a enxurrada de crises políticas encadeadas em formato de livro: trocando os prestigiosos tomos ultra-analíticos e com profusão de notas por um manifesto urgente que chama à mobilização e à luta: da jurídica à das ruas e fábricas.
A autora best-seller Naomi Klein passou duas décadas estudando choques políticos, mudança climática e a “tirania das marcas”. Dessa perspectiva singular, ela argumenta que Trump não é uma aberração, mas a extensão lógica das piores e mais perigosas tendências dos últimos cinquenta anos. Não basta, ela nos diz, meramente resistir, dizer “não”. Nosso momento histórico exige mais: um “sim” inspirador, digno de confiança, um guia para reivindicar o território populista daqueles que buscam nos dividir.
Deborah Levy
Uma das vozes mais originais da literatura de língua inglesa, Deborah Levy, sul-africana radicada em Londres, publicou, em 1986, “Beautiful Mutants”, primeiro dos seus seis romances, pelos quais recebeu diversos prêmios internacionais. Foi duas vezes finalista do Man Booker Prize, com “Nadando de volta para casa” e “Hot Milk” (2016), livros em que explora questões sobre identidade, exílio e deslocamento.
Em Coisas que não quero saber ela tece uma resposta, feminina, ao conhecido ensaio de George Orwell “Por que escrevo”, de 1946. Aqui ela reflete, literariamente, sobre as razões que a levaram a escrever, tendo como pano de fundo a África do Sul, onde cresceu e onde seu pai foi preso por lutar contra o apartheid; o subúrbio londrino em que, exilada, passou a adolescência; e Maiorca, a ilha espanhola que é como um refúgio na maturidade. Neste relato vívido e perspicaz sobre como despretensiosos detalhes da vida pessoal de uma autora podem ganhar força na ficção, Levy sugere muito mais do que de fato diz. De certa forma, uma versão atualizada de “Um teto todo seu”, de Virginia Woolf, esta elegante autobiografia literária desvela a necessidade da mulher de dizer o que pensa, de projetar sua voz e ocupar seu lugar no mundo.
Gaía Passarelli
Gaía é escritora, autora do livro “Mas Você Vai Sozinha?”, lançado pela Editora Globo em 2016. É ex-VJ da MTV Brasil e escreveu para Folha de S.Paulo, Rolling Stone Brasil e outros veículos. Ela começou a pegar a estrada desde cedo. Quando pequena, suas primeiras viagens foram ao lado dos avós. O hábito de se aventurar por cidades e países desconhecidos criou raízes.
Em seu livro, Gaía relembra uma pergunta que mulheres que viajam sozinhas com certeza já ouviram. Seja em outro continente ou na cidade vizinha, é sempre um ato de coragem decidir conhecer um lugar por conta própria. Neste livro, a autora fala com sinceridade e bom-humor sobre suas aventuras sozinha pelo mundo.
Noelle Stevenson
Noelle Stevenson é autora, ilustradora e quadrinista. Pela criação de Nimona, foi premiada com um Eisner Award e finalista do National Book Award, ganhou o Slate Cartunist Studio Prize de Melhor Web Comic e foi indicada para o Harvey Award. Nimona é uma metamorfa sem limites nem papas na língua, cujo maior sonho é ser comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro, o maior vilão que já existiu. Mas ela não sabia que seu herói possuía escrúpulos. Menos ainda uma deliberada missão.
Gostou da lista? Qual livro incluiria? Participe!
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Já conhecia a escrita da angolana Djaimilia P. de Almeida “Luanda,Lisboa,Paraiso”e da italiana Elena Ferrante “Histo’rias do Novo Nome”.
Obrigada pela lista tão diversa, onde poderei escolher outras leituras.
Já salvei a lista aqui para ler todas ao longo deste ano. Muito obrigada pelas indicações!
Só não gostei da nomeação da mocinha que pensa que pode ser uma boa atriz, uma boa escritora e não tem talento nenhum para tal: a Fernanda Torres! Uma montanha cheia de ventos, à primeira vez impressiona mas em segunda análise o vento se esvai e a montanha murcha e vira um pano de chão! Cadê o rodo?
Recomendo Um Defeito de Cor, de Marília Guimarães, mineira.
Não sei quais prêmios recebeu, mas merece muitos.
Fala da história brasileira, entremeada de cultura africana e de leitura fluida, agradabilíssima. Vale a pena mergulhar nesta leitura.
Olha, parabéns pelo artigo, adorei conhecer autoras femininas que eu não conhecia, já to fazendo uma listinha para lê-las.