escrever biografias não autorizadas pode dar pano pra manga! Foi o que aconteceu recentemente quando o Brasil virou cenário de uma intensa polêmica sobre a necessidade (ou não) de autorização prévia para a escrita de biografias. A discussão dividiu opiniões. Enquanto a Anel (Associação Nacional dos Editores de Livros) questionou que a necessidade de aprovação para divulgação de uma biografia fere a Constituição ao se estabelecer como uma forma de censura à liberdade de expressão, membros do grupo Procure Saber – como Roberto Carlos, Caetano Veloso e Chico Buarque – se manifestaram contra, defendendo a necessidade da autorização prévia como uma forma de proteção à vida privada.
Não é de se espantar que Roberto Carlos faça parte desse grupo. Há seis anos, ele conseguiu retirar das prateleiras sua biografia Roberto Carlos Em Detalhes, escrito por Paulo César de Araújo. Ainda que não se saiba o real motivo que levou o Rei a solicitar a retirada dos exemplares de circulação, especula-se que o cantor teria recorrido à Justiça por não ter gostado da menção ao acidente que sofreu envolvendo uma locomotiva e também pela afirmação de que teria muitas manias.
Ainda assim, em meio a toda essa polêmica, entre os agraciados com o Prêmio Jabuti na categoria “biografia” – categoria que o curador José Luiz Goldfarb anunciou como “ameaçada de extinção” – está o livro Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, uma biografia não autorizada do jornalista e biógrafo Mário Magalhães.
Mário concedeu uma entrevista exclusiva para a Estante Virtual falando sobre sua obra e a polêmica das biografias não autorizadas. Confira!
Entrevista com Mário Magalhães:
EV: Como você se sentiu ao ganhar o Prêmio Jabuti na categoria de melhor biografia, enquanto o país discute a necessidade de autorização para a escrita de biografias?
Mário Magalhães: Muito feliz, embora o principal reconhecimento a um autor seja dos seus leitores. O Jabuti foi concedido a três biografias não autorizadas: “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, meu livro; “A carne e o sangue”, da historiadora Mary Del Priore; e “Getúlio”, do meu colega jornalista e amigo Lira Neto. Todas poderiam não ter chegado às livrarias com base na legislação em vigor. A principal distinção do Jabuti 2013 foi premiar, na categoria biografia, três obras não laudatórias, que buscam contribuir para se conhecer a história do Brasil sem imposições dos relatos oficialescos.
EV: Em que momento você percebeu que queria se dedicar apenas a biografias?
Mário Magalhães: Era um plano antigo fazer um mergulho numa reportagem, sem as amarras de tempo (para apurar) e espaço (para escrever) típicas de uma redação de jornal, onde eu trabalhava. Mas o plano era concluir o livro em dois, três anos. Acabei trabalhando nele durante nove anos, dos quais cinco anos e nove meses em dedicação exclusiva. A vida de Marighella foi tão frenética que exigiu esse tempo todo.
EV: Diante de tantas personalidades para serem biografadas, por que a escolha do guerrilheiro Marighella?
Mário Magalhães: Porque eu não descobri personagem mais fascinante do que Carlos Marighella (1911-69), goste-se ou não dele. É legítimo amar ou odiar Marighella, mas impossível ficar indiferente à sua vida trepidante. O protagonista também me permitiu contar quatro décadas alucinadas do século XX, dos anos 1930 aos 1960. E contar um pouco de outros tantos personagens que valem biografias exclusivas sobre eles.
Imagem da esquerda: Carteira do PCB emitida em um período de legalidade do partido, de 1945 a 47;
Imagem da direita: Marighella fotografado pela polícia paulista em junho de 1939, um mês depois de sua terceira prisão.
EV: Em seu blog, você mencionou que “enquanto perdurarem os ameaçadores garrotes da censura”, Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo será sua primeira e última biografia. Como você se posiciona diante de toda essa polêmica do projeto que prevê a autorização das biografias não autorizadas?
Mário Magalhães: A lei em vigor condena o Brasil a ser a única grande democracia que impõe censura prévia não somente a biografias, mas a toda produção jornalística e cultural. Basta ler os artigos 20 e 21 do Código Civil para constatar. Se não for mudada, não escreverei mais biografias. Espero que o Congresso e o STF interditem a censura.
EV: Considerando que “Marighella” será o primeiro trabalho de Wagner Moura como diretor, quais são suas expectativas para a adaptação cinematográfica da obra?
Mário Magalhães: O projeto tem tudo para se transformar em um filmaço. Marcará a estreia do Wagner Moura como diretor de longa-metragem. Em uma produção conjunta dele com a O2, produtora de Fernando Meirelles. São muitos talentos unidos. Vão arrebentar.
EV: Em seu blog, você menciona que a Estante Virtual ajudou durante o processo de pesquisa para o desenvolvimento de sua obra. Pode citar alguns livros que foram adquiridos no site da Estante e fundamentais para a biografia?
Mário Magalhães: Eu já comprei 155 livros na Estante Virtual, quase todos relativos à biografia “Marighella”. A Estante foi como um santo protetor nos nove anos de trabalho. Sempre que precisei, não fiquei na mão. Um só exemplo de tesouro que encontrei (e paguei baratinho, bem me lembro): “Technocracia ou o 5º Estado”, de Abílio de Nequete, obra de 1926, com o volume bem conservado. O autor foi o primeiro secretário-geral, cargo máximo, do Partido Comunista.]]>
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